Sete em cada 10 obras em Angola estão paralisadas
A classificação inclui obras residenciais (habitação) com 3.585 e não residenciais (indústria, comércio, hospitais, escolas, escritórios, igrejas e hotéis) com 219. Luanda, com 501 obras em processo de construção é o maior mercado, enquanto no sentido inverso está Benguela com 709 obras paralisadas.

Sete em cada 10 obras em curso no País estavam paralisadas no final de 2022, indicam os dados do Inquérito Trimestral de Avanço e Acompanhamento dos Edifícios em Processo de Construção (ITAEPC), do Instituto Nacional de Estatística, publicados esta semana. De acordo com os dados do inquérito, no último trimestre do ano passado foram visitadas 3.804 obras em todo o País, das quais apenas 1.039 estavam em processo de construção, com 2.765 paralisadas.

O ITAEPC é um indicador do estado do sector da construção no País, que há muito anos está em terreno negativo, devido, sobretudo, à recessão económica e à queda dos preços do petróleo, factores que pressionaram o mercado da construção.

A estes factores acresce-se também a alta dos preços dos materiais de construção e as limitações no acesso ao crédito por parte dos promotores imobiliários e famílias.

Olhando para o mapa das obras de construção licenciadas em Angola, Luanda lidera a tabela com 501 obras em processo de construção, o que significa que é o maior mercado imobiliário do País, seguido pelo Cuanza-Sul com 82. O Bié fecha o top três com 75 projectos imobiliários em curso. Ou seja, na distribuição das obras em construção, destacam- -se Luanda com 48,22%, Cuanza Sul com 7,89%, Bié com 7,22% e Lunda Norte com 4,91%.

Já Benguela, com um total de 717 obras, das quais apenas oito em construção e 709 paralisadas, é a região menos promissora para os promotores imobiliários. A província do Uíge, com 457 obras paralisadas, é a segunda região com o maior número de obras licenciadas ociosas. A Huíla é a terceira circunscrição do País com o maior número de obras paralisadas.

As obras por propósito estão classificadas nas categorias "para habitar", com um total de 3.047, "uso próprio" com 625 e "propósito misto" com 132. Na categoria obras para habitar destaca-se Benguela com 21,9% do total, Luanda com 21,3%, Uíge com 10,9%, e Huila com 8,7%, respectivamente.

Os motivos que impulsionam a paralisação dos trabalhos de construção em todo o País, de acordo com os especialistas, prendem-se com a baixa procura por habitação e pela desvalorização cambial. Fontes do Expansão indicam que o agravamento da crise imobiliária está ligada também à volatilidade dos preços do petróleo, o que fez arrefecer o sector da construção em Angola. Os promotores imobiliários são unânimes em reconhecer que sem dinheiro, ou seja, sem crédito, tanto para os promotores como para os consumidores, será difícil aquecer o mercado da construção em Angola.

Só para se ter uma ideia, o Índice de Preços de Material de Construção (IPMC) do mês de Maio indica que, entre Abril e Maio de 2023, registou-se uma variação de 1,1 %, pelo que se verificou um aumento de 0,1 pontos percentuais (p.p.) em relação ao registado no mês anterior. Já a taxa de variação homóloga do IPMC, de Maio de 2023 a Maio de 2022, fixou-se em 9,0%.

Esta alta de preços, em termos homólogos, de acordo com os especialistas do sector, tem um impacto forte nas empresas ligadas à construção e promoção imobiliária.

Para sustentar os aumentos nos preços dos materiais de construção, o INE indica que nas variações homólogas, entre os grupos que mais registaram aumentos, o destaque vai para a "madeira e contraplacado" com 13,9%, seguindo-se a "areia" com 13,7%, "betão pronto" com 13,1%, "pedra britada e mármore" com 13,0%, e vidros e artigos de vidro" com 12,3%, "tubagens e acessórios de plásticos" com 11,5%, "produtos sintéticos" com 10,2%, "aço" com 10,1%, "vigas, vigotas e ripas" com 9,3%, "blocos" com 8,1%, "tijolos" com 7,4%, "outros produtos sintéticos" com 6,3%, "alumínio" com 5,6%, e "cimento" com 5,5%. A resposta para estas subidas está no facto de grande parte dos materiais ainda serem importados.

Os preços sobem todos os dias e qualquer iniciativa de promoção imobiliária torna-se mais onerosa em Angola. "Temos muitas insuficiências no mercado interno e torna-se difícil adquirir materiais de construção. Isto vale para os promotores imobiliários, assim como para os particulares", disse uma fonte ao Expansão, tendo lembrado que muitas famílias, em Angola, recorrem às cooperativas para ter acesso a casa própria, com a possibilidade de parcelar os pagamentos.

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