Novo aeroporto quase pronto, mas sem pessoal qualificado
As infraestruturas são imponentes e até ao final de Outubro as obras deverão estar concluídas. Mas são necessários cerca de 10 mil trabalhadores e 15 milhões de passageiros para pôr em pleno funcionamento o Novo Aeroporto de Luanda. Esse é agora o grande desafio. Até este momento os custos estão estimados em cerca de 7,6 mil milhões USD.

A primeira coisa a reter é que não se põe um aeroporto desta dimensão a funcionar de um dia para o outro e é preciso baixar as expectativas sobre a data de entrada em funcionamento pleno desta infraestrutura. Entre a data de inauguração e o aproveitamento efectivo das novas instalações haverá um prazo que pode ir até três anos. Se as obras têm prazo de finalização para Outubro deste ano, o funcionamento pleno só deverá acontecer no final do primeiro semestre de 2026. Embora a operação no NAIL possa abrir com operações de carga a curto prazo, ou seja, ainda este ano, apesar de ser importante realçar que grande parte da movimentação de carga para o País se faz com aviões de passageiros.

O primeiro grande desafio são as pessoas que vão trabalhar no aeroporto, sendo que há meses atrás as instituições envolvidas terão percebido que ia mesmo haver aeroporto e iniciaram os programas de formação para os futuros trabalhadores. No que se refere à comparação com actual aeroporto 4 de Fevereiro há diferenças abismais da forma e da dimensão de trabalhadores necessários para operar. E isto desde as actividades mais técnicas, como por exemplo o controlo de tráfego aéreo, às mais simples como a limpeza (varredura) das pistas, onde por exemplo os trabalhadores terão de estar certificados, que na prática obriga ao domínio da língua inglesa para poderem comunicar com a torre de controlo.

Se para as empresas existe esse desafio de ter o número de trabalhadores com valências necessárias para operarem no NAIL, para os cidadãos é também a oportunidade de um mercado de trabalho com competências especializadas. Um exemplo apenas. Na primeira fase vão ser instalados 40 balcões migratórios para as partidas e 30 para as chegadas, que se olharmos à necessidade de operar com três turnos (210 trabalhadores), ao que se juntam mais 50% para fazer o serviço das folgas semanais, vemos que a funcionar em pleno, o SME precisa de destacar apenas para atendimento aos passageiros, 315 profissionais.

No que se refere à gestão do aeroporto, o ministro Ricardo Viegas d"Abreu anunciou a realização de um concurso público internacional, sendo que para os restantes postos terão de ser as empresas envolvidas a formar os seus trabalhadores. Para as outras áreas técnicas possivelmente terá de haver recurso a mão-de-obra estrangeira, numa primeira fase, mas tem que haver o comprometimento dos envolvidos em formar e dar oportunidade a recursos humanos angolanos. Mas é preciso tempo para que estes profissionais possam estar disponíveis. Em termos práticos, o processo de formação de capital humano decorrerá ao mesmo tempo da transferência de processos do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, ao que se junta o processo de certificação do NAIL. Estando interligados, o andamento destes processos vai definir as condições para o aeroporto funcional em pleno.

Uma das grandes inovações que o NAIL traz é a mudança de paradigma no controlo do espaço aéreo angolano, sendo que nesta altura é feito no 4 de Fevereiro por comunicação dos próprios aviões quando entram na jurisdição no País, sendo que agora serão detectados e registados pelos nossos radares, sendo a informação processada automaticamente. Em termos de acompanhamento existem três áreas - espaço aéreo, espaço oceânico e aproximação/levantamento do aeroporto.

São três as infraestruturas que já estão prontas e a funcionar (embora de forma parcial) no novo aeroporto que irão fazer este monitoramento. A Torre de Controlo de Tráfego Aéreo, que se destaca na estrutura pelos seus 82 metros de altura, tem um piso subterrâneo e 25 pisos acima do solo, o Edifício Radar, o coração do controlo de tráfego aéreo onde estão instalados os radares ATC, a sala de monitoramento e onde trabalham os controladores. É a primeira estrutura com estas características no País. A estes junta-se o Edifício de Radar Meteorológico, que se destaca por ter uma torre com 12 pisos.

15 milhões de passageiros

Também não será nada fácil garantir uma circulação anual de 15 milhões de passageiros, tendo em atenção que os números de 2022 apontam para uma movimentação de 1,5 milhões, pelo que estamos falar de multiplicar por dez o actual tráfego. Isto só deverá acontecer a médio e longo prazo, mas é um factor essencial para garantir o pleno funcionamento do aeroporto. Sem passageiros suficientes, por exemplo, a zona comercial não terá condições de manter a sua actividade, o número de trabalhadores nas diversas áreas será muito menor, e haverá parte das infraestruturas que ficarão sem actividade.

REAÇÕES

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