Governo já torrou 1 bilião para salvar BPC
A recapitalização daquele que já foi o maior banco angolano custou ao Estado mais de um bilião Kz. Três anos após o início do Programa de Reestruturação, o banco passou por um processo de modernização e de downsize que terminou com mais de 1.500 empregos. Quase 500 foram despedidos por esquemas e fraudes.

Muito tem acontecido no BPC ao longo dos anos e ao fim de sete anos o banco voltou a registar lucros, neste caso no balancete do I trimestre deste ano. Foi um caminho difícil até aqui...

Naturalmente, sim. Se dissesse o contrário não estaria a ser realista. Foi um desafio enorme, a começar pelas necessidades de capitalização, pela implementação e estabilização dos controlos. A questão da optimização da rede comercial e depois também compatibilizar a estrutura de custos com a capacidade de geração de receitas ou de proveitos do banco que estava desequilibrado. E trazer este equilíbrio para que pudéssemos, no limite a partir de 2023, evitar e prevenir a erosão dos capitais próprios e dos capitais injectados, do esforço dos accionistas e fazer com que o banco por si só pudesse, por via do auto-financiamento, manter-se no médio e longo prazo mesmo em contexto adverso do ambiente macroeconómico e das dificuldades até de clientes. Então, trazer o banco para este patamar foi um exercício de várias administrações, foi um esforço por parte dos accionistas, de sacrifícios dos próprios funcionários do banco e, com a contribuição e esforço de todos, permitiu- -nos chegar a este ponto em que podemos consolidar esta parte conquistada da estabilidade, com os investimentos que fomos fazendo ao longo dos últimos quatro anos.

Que investimentos foram esses?

Em tecnologia, investimentos nas pessoas, portanto desde as lideranças intermédias aos líderes técnicos das equipas. E todo um processo de optimização das políticas, dos procedimentos, que conferiram de alguma forma credibilidade e confiança por parte dos funcionários. A partir de dentro para fora, trouxemos este nível de confiança na administração, com a coesão da equipa. Uma equipa muito pequena liderada até ao ano passado por André Lopes. Essa coesão, alinhada a políticas que conferissem maior transparência, permitiu galvanizar, motivar as equipas e até prestadores de serviço.

E já deu resultados?

Se se recordam, o banco entrou num processo de reavaliação da sua estrutura de custos, de negociação de contratos. De 2020 para cá, introduziu os mecanismos de contratação via concursos. Em muitos casos de concursos públicos propriamente ditos. Mesmo depois de a lei não tornar obrigatório em 2021, mas continuámos com a mesma prática. Isto permitiu tornar os custos do banco mais competitivos em termos de fornecimento de serviços.

Foi um caminhar no sentido da transparência...

Exactamente. Trabalhou-se muito nessa perspectiva, nesse espírito. Faz parte dos valores com que a administração desde 2019 até à data se comprometeu. Com rigor, transparência, com a inclusão, uma gestão participativa e efectiva de todos. Isto permitiu-nos chegar a este nível, com estes resultados.

O banco está no último ano do plano de reestruturação. Estava inicialmente previsto que os lucros regressariam em 2021, entretanto a própria administração sempre disse que esse ano não era razoável. O que é que impediu o regresso aos lucros mais cedo?

Mais cedo, se bem me recordo, estávamos a trabalhar com as primeiras projecções que ao longo da sua caminhada, nestes quatro anos, conheceria sempre ajustes. E este é um dos aspectos. Estamos a falar de projecções, que valem o que valem. São estatística. Os pressupostos nem sempre estão alinhados com aquilo que na realidade, daqui para o futuro, se irá concretizar. Deviam olhar para as previsões de 2021 que nós fizemos. E essa visão, as projecções indicavam que o mais razoável seria termos [lucros] em 2023.

Porque é que só em 2023?

Factores que impactaram, como o tema do downgrade [do rating da República]. Sendo um banco que tinha uma carteira de títulos decorrente do saneamento da carteira [de crédito] em que foram dados [à Recredit em troca de títulos do tesouro] 80% da carteira de crédito na situação de não recuperação. Portanto, constituía a nossa carteira de títulos este saneamento, mas também títulos de capitalização que os accionistas aportaram ao banco. Tendo essa exposição, apanhámos por tabela o impacto da revisão em baixa do rating [risco] do País. E isto reflecte-se hoje com a aplicação das normas internacionais [de contabilidade], e não foi só o BPC afectado. Se reparar, o sector quase todo ressentiu nas contas de 2021 o downgrade da dívida e, portanto, isto foi um dos grandes efeitos que, de alguma forma, terão contribuído significativamente para não chegar àquelas métricas. E isto resultou toda a alteração até para 2022.

Entrevista do Expansão

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