Fraco rendimento das famílias afasta clientes do sistema bancário
Muitos clientes bancários desconhecem os seus direitos enquanto consumidores e 80% não entendem sobre investimento bancário. Especialista defende que o regulador deve rever as políticas de inclusão financeira e adoptá-las mais para a realidade angolana. Cerca de 12% da população adulta diz que não tem conta porque não tem documentos para o fazer.

Apesar do incentivo que se tem feito no sentido de melhorar os níveis de bancarização no País, menos de 32% da população com 15 ou mais anos de idade, que corresponde ao total de 5.693.602 pessoas, possui uma conta bancária. Dos que têm conta, 84% tem cartão de débito (Multicaixa) activo, de acordo com os resultados do inquérito de literacia financeira desenvolvida pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e o Banco Nacional de Angola (BNA).

Com uma amostra de 35.190 famílias, o resultado do inquérito realizado durante quatro meses de 2022, nas 18 províncias, revela que 65% dos inquiridos que alegam que não têm uma conta bancária aberta não o fazem porque os seus rendimentos são muito baixos e não justificam ser depositados em bancos. Outros factores que também influenciam o número de pessoas não bancarizadas é a falta de documentos, bem como a falta de agências próximas da sua residência e o não reconhecimento dos benefícios dos serviços bancários.

Assim, conforme os resultados do INE, o nível de literacia financeira no País é de 24,7%, sendo que as mulheres têm maior domínio sobre os assuntos financeiros (55,1%). É na zona urbana onde há pessoas com mais literacia, numa proporção de 62% da amostra.

Para o economista Wilson Chimoco, o número de pessoas não bancarizadas é um campo de oportunidade para as instituições bancárias explorarem. "Mas mais do que os bancos terem aí uma oportunidade, é o próprio regulador que deve rever as políticas de inclusão financeira que tem vindo a adoptar que, cada vez mais, se apresentam distantes da realidade", defende.

O especialista ressalta que para estarem incluídas financeiramente, as pessoas não têm de ter apenas contas bancárias, mas sim ter facilidade e competências para gerir as finanças pessoais e tirar proveito do sistema financeiro e, "isso não tem acontecido, não apenas porque as pessoas não têm rendimento suficiente, mas também porque as soluções financeiras que existem ainda estão por se ajustar às reais necessidades da maioria da população", acrescentou.

Para Chimoco, o nível de literacia apresentado pelo INE é muito baixo, e significa que há um longo trabalho a ser feito, pois milhares de angolanos ainda não têm tirado partido do sistema financeiro, disse.

O inquérito que teve como objectivo caracterizar o nível de literacia da população angolana, com maior incidência dos 15 e mais anos de idade, permitiu a avaliação de variáveis como níveis de conhecimento, comportamento, e atitudes sobre os mais diversos serviços financeiros. O resultado da pesquisa mostra também que 55,5% da população tem conhecimentos sobre poupança, mas apenas 36,4% é que fazem poupança. Dos que a fazem, 73,4% dos entrevistados admite ainda preferir guardar as suas poupanças em casa. Da população adulta com conta bancária, apenas 6% tem conhecimentos sobre direito do consumidor bancário, sendo que 79,6% não entende sobre investimento bancário e apenas 2% utiliza produtos financeiros para investir.

Para a administradora executiva do BNA, Marília Poças, os resultados mostram que o caminho que tem por se percorrer é desafiante e "há urgência em reforçar as nossas acções". Destacou ainda que o Despacho Presidencial 201/2023, de 25 de Agosto, criou a Comissão de Coordenação da Estratégia Nacional de Inclusão Financeira, que está incumbida de elaborar a Estratégia Nacional de Inclusão Financeira, documento que visa estabelecer, promover e monitorar sistematicamente os níveis de inclusão financeira no País.

REAÇÕES

0
   
0
   
0
   
0
   
0
   
0
   
0
   
0