Esquadra da polícia é destruída- População grita socorro
É no bairro dos Ossos, no distrito urbano do distrito do Hoji-Ya-Henda, município do Cazenga, em Luanda.

Após a vandalização, o posto policial dos Ossos nunca foi reparado e encontra-se desactivado há mais de um ano. A população local e dos arredores diz viver "dias de horror" devido ao alastramento do índice de criminalidade na zona.

A Polícia Nacional em Luanda não tem ainda uma previsão para a reabilitação e activação do posto policial dos Ossos, segundo apurou o Novo Jornal junto de uma fonte do Ministério do Interior (MININT), em Luanda. Uma equipa de reportagem deslocou-se ao local e conversou com os moradores que sem sentem prejudicados pelo facto de o posto policial ter sido destruído.

No bairro dos Ossos, a população sente-se desprotegida desde que os marginais tomaram de assalto a zona e vão tirando o sono às pessoas.

"Desde que o posto policial deixou de existir, a situação da criminalidade aumentou consideravelmente e já não temos paz", asseguram moradores.

Marta Damião, residente da rua do posto policial, contou que está difícil viver na zona nos últimos tempos.

"Desde que a esquadra deixou de existir somos assaltados de dia e de noite. Já não temos paz", disse.

Duas outras mulheres que se juntaram à conversa disseram que foi um grande erro as pessoas vandalizaram o posto policial dos Ossos.

"Passamos mal. Esquadra não é para destruírem. Elas foi colocada aqui para o nosso bem. Agora vivemos com o coração nas mãos e já não dormimos em condições nas nossas casas", contaram as duas mulheres.

Um morador, efectivo da polícia, que falou sob anonimato, disse que as coisas ficaram feias na zona e que a população passa mal por falta de patrulhamento.

O morador contou que a população foi infeliz ao vandalizar o posto policial que agora faz muita falta a todos.

"Desde que a esquadra foi desactivada a delinquência aumentou 100 por cento. E a população não tem alternativa para se defender, às vezes pedimos socorro na esquadra do "Bate nu", que fica muito distante", contou.

Segundo os moradores a questão da insegurança no bairro leva a que muitas famílias abandonem a zona.

"Isso era mesmo um posto policial de facto, tinha mais de 40 efectivos e a zona tinha segurança", disse o oficial da polícia, também morador.

"Agora temos que ir pedir ajuda quando há assaltos e brigas entre grupos na esquadra de "Ngoma" que fica acerca de 40 minutos daqui", continuou.

"Pedimos que veham reabilitar a esquadra para o bairro ter segurança outra vez. Foi um erro terem vandalizado o posto policial dos Ossos", declarou.

Apercebendo-se da presença do Novo Jornal no posto policial, vários moradores juntaram-se para apelarem às autoridades competentes para que façam a reposição do posto policial dos Ossos.

"Antes andávamos bem, agora fazem assaltos sempre e a qualquer momento porque não temos polícia na zona. Por favor, venham repor a nossa esquadra, apelam os moradores, pedindo o regresso dos efectivos da PN.

Domingos Cabuakela, de 66 anos, coordenador do sector 35 do bairro dos Ossos e morador há mais de 20 anos, disse que desde que foi vandalizado o posto policial, as noites não são mais as mesmas por causa do aumento da delinquência no bairro.

"Estamos a pagar por um erro que nós não cometemos. Foram jovens do bairro vizinho que destruíram a esquadra da polícia e todos ficámos prejudicados", contou.

Para o coordenador, os moradores da zona reprovaram a atitude dos jovens que destruíram um bem público e de segurança.

"Condenamos essa atitude, eles não podiam fazer isso, mas fizeram, agora a situação da delinquência aqui aumentou e estamos a pagar caro. Os bandidos estão a brincar connosco tanto de dia como de noite", desabafou.

Domingos Cabuakela lembra que o posto policial dos Ossos dava tranquilidade aos bairros vizinhos como os Campismos, Nguanha, Vassarouco, Marconi e outros.

"Todos esses bairros que enumerei dependiam dos polícias daqui. Como a esquadra não está mais a funcionar todos estamos a sofrer", explicou.

Segundo este coordenador, as autoridades policiais, como órgão de segurança da população, devem dar como ultrapassado o incidente ocorrido no ano passado e restituir o posto policial.

"Sem a presença da polícia somos inferiores a todos os delinquentes e a tudo, estamos mal, queremos o nosso posto policial de volta", suplicou o coordenador do sector 35.

Polícia Nacional em Luanda não tem previsão para a reabilitar o posto policial dos Ossos

A Polícia Nacional em Luanda não tem ainda uma previsão para a reabilitar e activar o posto policial dos Ossos, confidenciou ao Novo Jornal um oficial comissário do Ministério do Interior (MININT), que preferiu não ser identificado nesta matéria.

Conforme este comissário, não é correcto a população partir para o vandalismo dos postos policiais sempre que nota erros ou excessos por parte de alguns efectivos.

"Quem sairá a perder será sempre a população. Se a moda pega, os maiores prejudicados serão os munícipes das localidades. Destruíram o posto policial do bairro dos Ossos e a população ficou sem esquadra. Agora têm problemas e precisam da intervenção policial, somente nessa altura é que se deram conta de que o posto destruído faz falta e servia para satisfazer o interesse da comunidade", lamentou.

Ao Novo Jornal, o superintendente Nestor Goubel, porta-voz do comando provincial da Polícia em Luanda, assegurou que a população do bairro dos Ossos de facto ficou prejudicada.

Segundo Nestor Goubel, a PN local tem feito o seu trabalho de patrulhamento, mas reconhece a existência de dificuldades porque "os meios destruídos durante a invasão pelos moradores estão a fazer falta à corporação".

"Há nos últimos tempos essa tendência, mas nós, PN, vamos ser duros, sem contemplações. A segurança das pessoas não se negoceia e o bem público não se destrói. Infelizmente o posto policial dos Ossos não está a funcionar porque os danos que a população causou foram maiores", concluiu o porta-voz.

A história do incidente em Setembro do ano passado

Na noite de quinta-feira, 10 de Setembro de 2020, no bairro dos Ossos, município do Cazenga, em Luanda, em reacção à morte de uma adolescente, a população vandalizou o posto policial.

De acordo com relatos recolhidos pelo Novo Jornal, na altura, o incidente ocorreu depois de um grupo de moradores ter recorrido ao posto policial no sentido de dirimir um conflito de grupos rivais no bairro dos Ossos.

"Quando o grupo chegou, por volta das 21:00, criou-se um pequeno alvoroço defronte ao posto policial e um efectivo da Polícia Nacional, tentando dispersar a população, fez alguns disparos, tendo um deles atingido mortalmente a menina", contou uma testemunha ao Novo Jornal.

Em reacção, referiu a fonte, a população partiu para a revolta, tendo vandalizado o posto policial e obrigado a que os agentes policiais destacados naquela noite na unidade policial se pusessem em fuga.

"A polícia não conseguiu conter a fúria da população. Estes arremessaram pedras cotra a esquadra e atearam fogo, destruindo, significativamente, o posto policial.

A revolta popular só terminou quase às 23: 00, quando chegou um grande reforço policial, que conseguiu controlar a situação", acrescentou o morador.

Adolescente foi morta com dois meses de gestação

Helena Funge, conhecida carinhosamente por Leny, a adolescente morta na noite de dia 10 de Setembro do ano passado, por um agente da Polícia Nacional, no bairro dos Ossos, encontrava-se grávida de dois meses e era a irmã mais velha de quatro irmãos.

A mãe, dona Fina, inconsolável, lamentou a perda de dois filhos num intervalo de menos de dois anos.

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