Desemprego é o que mais alimenta os grupos jihadistas na África Subsaariana
Em países como o Burquina Faso, Camarões, Nigéria, Sudão ou Somália, é a falta de emprego que mais empurra a juventude para as fileiras dos grupos jihadistas e não as crenças religiosas, concluiu um estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

O desemprego supera a religião ou a ideologia no fomento do radicalismo islâmico ou outros grupos criminosos porque atrai para as suas fileiras uma crescente população jovem e sem esperança nesta sub-região africana.

Além de organizações radicais islâmicas, como o Boko Haram, na Nigéria, a al qaeda do Magrebe, o estado islâmico", o al-Shaabab, seja o do Corno de África, seja o do norte de Moçambique, ou, mais recentemente a Aliança das Forças Democráticas (ADF), que jurou fidelidade ao `estado islâmico", também os denominados grupos de "bandidos" no sudoeste nigeriano ou os rebeldes do Delta do Níger, integram estes "íman" irresistíveis para jovens desocupados e, geralmente, extremamente pobres.

Estes dados, que foram publicados pelo AfricaNews, e que constam do relatório do PNUD, resultam da auscultação de mais de 2.000 rapazes e raparigas desta vasta sub-região africana, especialmente em oito países: Burquina Faso, Camarões, Chade, Mali, Níger, Nigéria, Somália e Sudão, durante o ano de 2021 e no início de 2022.

O interessante deste estudo, o primeiro do género, e, por isso, de grande actualidade, é que mais de 1.200 dos auscultados pelos técnicos do PNUD são antigos membros destes grupos violentos, alguns voluntários outros levados à força para as suas fileiras...

Entre os que aderiram voluntariamente ao al-shaabab, Boko Haram ou al qaeda do Magrebe, a razão apontada foi a falta de trabalho ou expectativa de que uma oportunidade de emprego surgisse em breve.

Curiosamente a questão religiosa é apenas a 3ª razão mais citada para a adesão a estes grupos, sendo a segunda o reencontro com familiares ou amigos que já integram as suas fileiras.

Este cenário na África Subsaariana coloca em evidência um dado perigoso que é o aumento do terrorismo e banditismo nesta parte do mundo quando a mesma tipologia criminosa está a diminuir noutros locais onde ainda há alguns anos eram expressivos, como, por exemplo, o Médio Oriente e partes do sudeste asiático.

A substanciar estes dados estão o facto de metade dos casos relatados de terrorismo no mundo ocorreram, no ano de 2021, em África, sendo que mais de um terço foram registados em quatro países, a Somália, o Burquina Faso, o Mali e o Níger.

O problema é que o mundo deixou de prestar atenção a este fenómeno terrorista quando começou a desaparecer do Médio Oriente e do Norte de África para se instalar na África Subsaariana.

O fenómeno ihadista começou a ser mais conhecido na década de 1990, em regiões do centro do Iraque, espalhando-se posteriormente para a Síria, com o surgimento da al qaeda, de Ossama bin Laden, e, depois, com o `estado islâmico", sobre os quais incidiram vagas de forças ocidentais que acabaram por empurrar estes grupos para as margens do Médio Oriente e, depois, para o norte de África, onde, de novo, foram combatidos violentamente por forças armadas internacionais.

Finalmente, como o prova o alerta lançado em 2020 pelos bispos católicos congoleses, do CENCO, para a chegada do jihadismo aos Grandes Lagos, através da ADF, grupo de guerrilha criado no Uganda na década de 1990 e que agora jurou fidelidade ao `estado islâmico", tendo já protagonizado dezenas de ataques no leste da República Democrática do Congo.

É ainda relevante lembrar que o terrorismo jihadista está por detrás de golpes de Estado militares em países como o Mali e o Burquina Faso, em 2021 e 2022, e antes em países como o Sudão ou o Níger.

No Mali e no Burquina Faso, esse fenómeno levou mesmo as respectivas juntas militares que governam a romper com a histórica relação preferencial com a antiga potência colonial, a França, por troca com o estreitamento de laços com a Federação Russa, que oferece mais garantias de apoio a estes grupos com a imposição de menos condições políticas.

Não é por acaso que o ministro russo dos Negócios Estrangeiros tem repetido visitas a estes países, como decorre actualmente, estando Sergei Lavrov num périplo pelo Mali, Mauritânia, Sudão...

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