Centenas de igrejas ilegais elevam risco de branqueamento de capitais
Pobreza, informalidade da economia, bem como o nível baixo de instrução da população são apontados como as principais causas para a proliferação de seitas e igrejas no País. Especialistas apontam que a solução passa por regular a situação e educar as igrejas. INAR deve ser mais actuante.

A mensagem de prosperidade financeira é a que mais atraí pessoas para as centenas de seitas e denominações religiosas que vão surgindo no País. A zona do Palanca, no município do Kilamba Kiaxi, é hoje o epicentro destas igrejas em Luanda. Em média, das 15 ruas do Palanca (de A-O) cada rua tem duas igrejas com denominações diferentes, com predominância para Pentecostal e Evangélica, e na maioria são lideradas por pessoas que se intitulam profetas. Os nomes também se apresentam como um meio para atrair membros, uns mais criativos do que os outros. Estampadas em lonas, letras grandes, vêem-se denominações religiosas como Igreja Coluna de Fogo, Igreja dos Príncipes, Igreja Tempo de Verdade, Ministério Deus da Graça (Arena fogo e oração), entre outras.

Durante a reportagem do Expansão, constatámos igrejas que comercializam o Espírito Santo, como é o caso da Igreja Tabernáculo Church que cobrava 25 mil Kz para que os seus fiéis vissem como o "Espírito Santo se move", numa clara violação à Lei sobre a Liberdade de Religião e de Culto, que menciona que as confissões religiosas estão impedidas de cobrar bens, serviços ou valores pecuniários a troco de promessas e bênçãos divinas. Mas esta violação é prática recorrente na quase totalidade destas igrejas com mensagens de prosperidade. A falta de fiscalização acaba por ser um incentivo à violação à lei e faz com que por todo o lado dia após dia vão surgindo cada vez mais igrejas.

As instituições religiosas do País estão isentas do pagamento de Impostos sobre o Património e do Imposto Predial, mediante o procedimento de reconhecimento administrativo, mas devem adoptar medidas de transparência sobre a gestão e a aplicação dos fundos arrecadados, tais como manter a sua contabilidade organizada.

Mas a violação à lei vai muito além das questões financeiras que envolvem estas igrejas, já que a maior parte delas cultuam em estruturas não apropriadas, em antigas residências ou lojas. E, muitos dos seus líderes, alguns auto-denominados profetas, estão na faixa etária dos 20 anos, e desconhecem os principais objectivos das instituições que dirigem, não têm experiência e nem formação teológica. A maior parte deles tem apenas como vocação conseguir aumentar o número de fieis das suas igrejas e, por sua vez, arrecadar cada vez mais doações. Na prática, são um negócio. O negócio da fé.

O Expansão tentou falar com muitos destes profetas mas sempre que a equipa se identificava como jornalista impunham um agendamento prévio, como foi o caso do líder religioso Simão dos Anjos, da Igreja Profética Manifestação do poder de Deus Pregando às Nações, situado na Fubú, em Talatona. Foram poucos os que aceitaram falar.

De acordo com os últimos dados do Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos (INAR), até 2018 o País tinha 84 confissões religiosas reconhecidas e 94 novas denominações estavam à espera de serem reconhecidas, de acordo com a lista publicada em Decreto Executivo Conjunto n.º 454/18, de 16 de Outubro. E mais de 1.200 confissões religiosas estavam ilegais. Das que aguardavam por legalização apenas quatro foram reconhecidas pelo actual Ministro da Cultura e Turismo, Filipe Zau, nomeadamente a Assembleia Missionária Cristã de Angola, a Igreja Josafat, a Igreja Pentecostal Unida em Angola e a Igreja Presbiteriana de Angola, que perfaz um total de 88 confissões religiosas reconhecidas, segundo o Decreto Executivo n.° 226/22, de 06 de Junho de 2022.

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