Antes da exoneração Ângelo Tavares fez contrato milionário com grupo Carrinho
É suspeito também de mexer em dinheiro do Estado.

Se, como é seu hábito, publicamente assumido, o Presidente da República não justificar as razões da sua decisão, Ângelo da Veiga Tavares deixa a Inspecção Geral da Administração do Estado sob a forte suspeita de haver metido a mão no bolso público.

Nomeado no dia 29 de Junho de 2023, Ângelo da Veiga Tavares não completou exactos seis meses no cargo de Inspector Geral do Estado, o que faz dele um dos dignitários que menos tempo permaneceram no lugar.

De entre os vários auxiliares do Presidente João Lourenço, muito provavelmente só Carlos Panzo, então assessor para os Assuntos Económicos, esteve menos tempo no lugar.

Ironicamente, Ângelo da Veiga Tavares, cuja demissão pode estar associada a (gravíssimos) actos de corrupção, roubo e sobrefacturação de serviços públicos, requisitos que, em Angola, conformam os chamados marimbondos, no princípio deste mês lançou uma suspeição generalizada sobre os jornalistas angolanos, associando-os a uma pretensa resistência à luta contra a corrupção.

Segundo ele, no país existiriam “agentes activos e passivos” pretensamente mancomunados com “imprensa mercenária” com o propósito de “desacreditar o combate à corrupção levado a cabo pelo Executivo”.

Antigo ministro do Interior, Ângelo da Veiga Tavares, apoiando-se não se sabe em quais evidências, previu o incremento, nos próximos tempos, da resistência ao combate à corrupção.

Afirmando que tanto os “dirigentes quanto os governantes não devem deixar-se intimidar” pelo que define como agentes activos e passivos, o ora demitido IGAE apelou a um cerrar de fileiras contra os “inimigos”, que “desenvolvem actividades” com o concurso de “imprensa mercenária, à qual caberia o papel de “difamar e caluniar” os intrépidos combatentes contra a corrupção.

“Não devemos estar preocupados com isso e nem deixar nos intimidar” porque “estas pessoas corruptas estarão sempre a recorrer aos supostos “portais de noticias”, que, na insultuosa linguagem de Ângelo da Veiga Tavares, ganham a designação de “pasquins”.

A insultuosa associação que Ângelo da Veiga Tavares estabeleceu entre a imprensa e marimbondos,“activos e passivos”, foi feita pouco menos de duas semanas depois de o jornal Valor Económico haver dado voz a denúncias de funcionários da IGAE que atribuíam ao titular do pelouro gastos exorbitantes em aquisições não prioritárias.

No dia 24 de Dezembro, o Valor Económico atribuiu a funcionários da IGAE informações segundo as quais Ângelo da Veiga Tavares teria autorizado uma despesa de 18 milhões de kwanzas para a “desinfestação” do edifício sede da instituição.

Funcionários com vários anos de casa garantiram ao Valor Económico  nunca se terem cruzado na sede da IGAE com ratazanas, sapos, baratas, cobras ou lagartos e outros agentes patogénicos que justificassem a milionária desinfestação.

A empreitada seria adjudicada por ajuste directo porque, segundo as fontes do Valor Económico, Ângelo Viegas Tavares alegava a optimização do processo, dispensando a necessidade de uma comissão de avaliação.

Além do astronómico valor, funcionários da IGAE sublinharam o despropósito da desinfestação, já que a IGAE funciona num edifício novo.

A Ângelo da Veiga Tavares também foi apontada uma obsessão com a aquisição de novas instalações para a sede da IGAE, um expediente através do qual se suspeitou que ele pretenderia milionária comissão. “Desde que assumiu o cargo o Inspector Geral envolveu a instituição numa espiral de gastos sem precedente”, disseram outras fontes ouvidas pelo Club-K.  

Não justificado por quem tomou a decisão, o afastamento de Ângelo da Vegas pode, também, não estar alheio a uma renhida disputa que mantém com vários membros do Executivo por deslealdade nos negócios.

Em causa pode estar, igualmente, o destino que deu à milionária comissão que recebeu do Grupo Carrinho pelo contrato para fornecimento de bens alimentares ao Ministério do Interior e órgãos dependentes. 

“Foram muitos milhões de euros, pagos directamente em Portugal, que permitiram a Ângelo da Veiga Tavares comprar na Europa muito e valioso património”, segundo fonte do Correio Angolense.

Normal em qualquer negócio, a milionária comissão resultante do negócio com o Grupo Carrinho deveria reverter a favor do Ministério do Interior.

“Contudo, o Sr. Tavares entendeu que aquele dinheiro pertencia-lhe em exclusivo”.

Até que o Presidente da República explique o contrário, hipótese em que ninguém acredita, Ângelo da Veiga Tavares terá de conviver com a suspeita de haver enfiado as manápulas no que é de todos os angolanos. 

No caso do agora ex-IGAE ajusta-se perfeitamente a máxima segundo a qual mais facilmente se apanha um mentiroso do que um coxo.

Desde que “descobriu”, no dia 3 de Janeiro, uma associação criminosa pretensamente envolvendo agentes activos e passivos da corrupção e imprensa, ele é exactamente a primeira e até agora vítima da sua imaginária resistência contra o combate à corrupção.

Texto de Graça Campos, jornalista

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