“Ainda existem muitas indústrias que trabalham com gerador e têm  muitas dificuldades no acesso à água”, diz Luís Diogo
Empresário e e membro de direcção da Associação das Indústrias de Materiais de Construção de Angola (AIMCA), Luís Diogo não tem dúvidas de que a construção civil nacional está parada e encontra motivos para isso: a burocracia e a desvalorização do dólar. Por isso, identifica condições gritantes que se verificam no mercado angolano, que “têm afastado outros investidores que optam por países mais competitivos”.

Queixa-se do processo burocrático na exportação dos produtos fabricados em Angola, inclusive dos Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (Prodesi). Luís Diogo lança dúvidas aos relatórios sobre o Índice de Preços dos Materiais de Construção (IPMC) publicados periodicamente pelo INE.

O país vive um aperto económico. Há relatos de indústrias com dificuldade na produção e a reduzirem pessoal. Como está o sector?

Estamos num período menos bom da nossa economia. Todavia, no nosso sector, na Associação das Indústrias de Materiais de Construção, que são 42 empresas que fazem parte, ainda não temos notícias deste nível, que poderão eventualmente reduzir pessoal. As pessoas estão a lutar, está tudo muito difícil não só para nós, mas estamos a sobreviver.

Não têm dificuldade no acesso à matéria-prima?

Os nossos associados não dependem, na sua totalidade, de importação de matéria-prima. São indústrias nacionais, algumas delas já conseguem fazer a aquisição localmente. Mas ainda há alguma importação, como é óbvio, atendendo áquilo que está a acontecer a nível mundial com consequências directas na economia de Angola, como a menor produção petrolífera e a desvalorização cambial de forma significativa que, na prática, vai ser preciso mais kwanzas para importar matérias-primas. As dificuldades começam a se sentir na disponibilização de divisas para comprar a matéria-prima. Não temos ainda relatos efectivos de que alguns associados têm dificuldade na matéria-prima, estão a ter alguma demora, mas ainda não é tão gritante. 

A produção não tem sido afectada?

A produção é sempre afectada. Todos nós tínhamos uma determinada projecção para 2023. O primeiro trimestre é sempre o do início, em que as coisas começam a alinhar-se e, este ano, o OGE só foi aprovado a 01 de Março, o que atrasou ainda mais a própria execução das verbas. Tínhamos expectativas de que o segundo trimestre fosse melhor e que, efectivamente, entrássemos em velocidade de cruzeiro, mas não aconteceu. Tivemos a questão da desvalorização. Obviamente que o empresário, atendendo a estes sinais, vai ajustando a sua estrutura e não tem de parar, reduz a actividade, mas mantém a produção, até porque com este cenário todo o consumo interno também diminuiu. Portanto, estamos com menos consumo, a actividade é menor do que aquela que era expectável. Não porque não existam projectos ou obras para se fazer, a questão tem que ver com o orçamento. Ainda há pouco ouvimos a notícia de que a ministra das Finanças decretou que todas as obras com grau de execução a 80% iriam ser suspensas, isso tem sempre impacto para quem está no sector dos materiais de construção.

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