SPCine oferece 30% das despesas aos angolanos que filmarem em São Paulo
A Autoridade de Audiovisual de São Paulo desafia as operadoras angolanas a realizarem as suas produções na cidade brasileira, oferecendo um retorno de 30% dos gastos efectuados, suportado por um programa de internacionalização da instituição que tem uma verba disponível de 10 milhões USD.

A SPCine, empresa pública de fomento da actividade de audiovisual da cidade de São Paulo, Brasil, fez uma visita a Angola, África do Sul e Nigéria com a intenção de perceber melhor os mercados locais, procurando arranjar parceiros no sector da produção de audiovisuais que estejam disponíveis para produzir conteúdos nas suas instalações ou na cidade brasileira.

A instituição traz na bagagem uma proposta de reembolso de 30% dos gastos para os que queiram filmar novelas, filmes ou séries televisivas naquelas paragens, de acordo com um projecto já aprovado na câmara legislativa de São Paulo, que disponibiliza cerca de 10 milhões USD para a cooperação com outros países. Precisa agora da aprovação do governo angolano para que as entidades nacionais possam beneficiar deste programa.

Esta medida faz parte da política de internacionalização da SPCine, que disponibiliza os seus serviços, técnicos e infraestruturas para as produtoras de conteúdos audiovisuais, escolhendo os países africanos como potencial mercado, uma vez que as condições de produção são, na maioria dos casos, deficientes. Na prática é um desafio às operadoras: venham filmar connosco, que fazemos um desconto de 30%.

De acordo com a presidente e directora da SPCine, Viviane Ferreira, o acordo tem também a possibilidade de gerar outros negócios durante o período de validade, numa perspectiva de tornar visível o potencial económico e comercial dos audiovisuais de ambos os países e relançar as relações bilaterais que "esfriaram" durante a presidência de Jair Bolsonaro. Agora com Lula da Silva no poder, "é possível mobilizar esforços tanto políticos como financeiros para que tanto a indústria audiovisual brasileira quanto a angolana, se possam fortalecer através da cooperação", explicou.

A responsável defende que este programa vai viabilizar a realização de muitos negócios entre as produtoras, canais e distribuidoras brasileiras e angolanas, impulsionando o desenvolvimento económico nos dois países, entendendo que hoje, como disse, dentro da indústria criativa, o audiovisual no Brasil mobiliza um volume de recursos que supera, por exemplo, a indústria automóvel.

E a razão de visitar Angola, África do Sul e Nigéria tem a ver com o facto de o programa de internacionalização da SPCine procurar outros locais, e não apenas as praças globais onde já existe um sector de audiovisual desenvolvido, com grandes estruturas tecnológicas e modelos de negócios pré-estabelecidos. Viviane Ferreira refere que olha com muito entusiasmo para as semelhanças históricas culturais entre o Brasil e o continente africano e, neste sentido, Angola aparece à frente dos outros países devido à língua portuguesa.

"Investir no audiovisual é uma decisão estratégica, olhar para um país com os potenciais culturais de Angola e para a relação tão próxima com o Brasil, parece-me que é um elemento estratégico para que se consigam alcançar retornos positivos em pouco espaço de tempo, pensando do ponto de vista económico e cultural", salientou Viviane Ferreira.

Depois dos encontros individuais que manteve com a TPA, Instituto Angolano de Cinema Audiovisual (IACA), Diamond Films, ZAP TV e Cinemas e a Geração 80, a directora da SPCine disse ao Expansão que foi possível entender como é que o sector se comporta, de forma a que possamos pensar juntos "quais são as oportunidades em comum que podem ser desenvolvidas no actual cenário que Angola vive e a contribuição para o incremento da indústria de audiovisuais em particular, e para o crescimento da economia em termos globais".

Explicou também que "há uma percepção de que o audiovisual em Angola carece de investimento na estruturação da mão-de-obra, aprimoramento, sector da formação, pensar nas universidades, nos cursos de cinema", reforçando que o IACA pensa em estruturar um sistema de fomento ao audiovisual local, para que tanto o Estado como o mercado possam juntos incentivar e potencializar esta cadeia de valor. "Há ainda muita coisa por fazer, mas há sementes muito bem estabelecidas. Quando se olham para as produções da Diamond Films e da Geração 80, percebe-se que há um enorme potencial", disse a responsável da SPCine na sua passagem por Luanda.

Viviane Ferreira reconheceu também que apesar desta disponibilidade em ajudar a crescer o audiovisual angolano, o Brasil também tem os seus desafios: os agentes da indústria criativa ainda lutam por uma nova regulamentação para o sector, que inclua quotas de audiência, conteúdo nas plataformas de streaming e reforço dos direitos autorais, bem como regras mais claras na concorrência entre as produtoras e a necessidade de internacionalizar esta indústria.

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