Opinião: Amo a liberdade de expressão, porém reverencio a liberdade de pensamento
Durante muitos séculos as sociedades espalhadas por todo mundo pugnaram por mecanismos que garantem as condições propícias para uma maior fluídez e ousadia na comunicação inter-pessoal.
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Grossomodo, a Comunicação é o palco onde todo e qualquer ser humano e social se revela, se realiza, se reencontra e se reconhece demonstrando as suas volições, sentimentos, pensamentos, expectativas, limitações, etc; ou seja, todo ser humano se reconhece no palco da Comunicação se tivermos em conta que ela pode ser endógena ou exógena.

A comunicação enquanto uma realidade pessoal encerra a endogeneidade ou a particularidade de qualquer indivíduo na qual ocorre a auto-estima, a introspecção, a auto-análise, a reflexão e muitas outras faculdades intrínsecas ao ser humano.

Já a comunicação enquanto uma realidade colectiva ou social encerra a exogeneidade ou as várias expressões verbais e não-verbais de todos actores sociais permitindo a interação e os resultados que daí advêm.

Tanto a liberdade de expressão como a liberdade de pensamento têm um valor incomensurável na realização da comunicação endógena e exógena, a despeito desta última inspirar mais cuidados e desafios por afectar a colectividade e valores universalmente consagrados.

Desde a antiguidade, as sociedades engendraram e consagraram vários mecanismos e meios para permitir uma comunicação livre e eficaz entre as pessoas. Investiu-se o suficiente nas garantias e liberdades de comunicação social, em geral, e expressão, em particular.

Mesmo até ao nível de produção científica, existem mais teorias e reflexões no âmbito do estudo da liberdade de expressão do que da liberdade de pensamento.

No meu ponto de vista, a luta pela liberdade de pensamento deveria desafiar e motivar mais reflexões, porque ela inspira mais cuidados. Todas outras liberdades estão enraizadas na liberdade de pensamento se tivermos em conta que toda e qualquer expressão decorre do pensamento.

Até para defendermos a liberdade de expressão é imperioso que sejamos livres no pensamento.

Uma consciência livre e aberta permite-nos, não só, defender com mais acutilância todas as nossas liberdades como perceber e explicar os seus argumentos e razões. Não basta só achar-se livre, é necessário desejar e apreender o valor inalienável da liberdade.

É curioso que o próprio processo de ensino-aprendizagem é mais favorável à liberdade de expressão em detrimento da liberdade de pensamento, ou seja, os professores exploram ou limitam-se a avaliar o aluno por aquilo que expressam ou deixam transparecer.

Por exemplo, é mais fácil para o professor formular um teste com uma série de questões como “O que é isto? Quem fez aquilo?” do que “O que entendes por aquilo? O que achas disto?”.

Se porventura, perguntarmos à um estudante da 4ª Classe O que é Angola? provavelmente ele responderá que “Angola é um país grande e belo ”como pode ser comprovado em algumas literaturas mas se perguntarmos “o que entendes ou achas de Angola?” provavelmente ela terá mais dificuldades em responder não por desconhecimento mais por falta de experiência ou hábito.

Na verdade, o próprio sistema de ensino-aprendizagem não estimula os estudantes ao pensamento livre. Os professores dificilmente estimulam os estudantes a exercitar e explorar um pensamento multifocal.

Por outro lado, é muito comum hoje vermos pessoas bastantes limitadas no pensamento ou na apresentação de idéias próprias e claras. Pior do que isso é conviver com pessoas que por si mesmas limitam-se a pensar sobre certas coisas.

Quantas são as pessoas que têm muitas reservas em abordar assuntos com pendor político e até mesmo social ou económico que é intrínseco à própria política.

Quantos Licenciados existem por aí que mesmo terminando a licenciatura com brio não conseguem pensar e discorrer livremente sobre os problemas sociais e as suas respectivas soluções?

Quantos jovens formados bastante conhecidos através de participações em debates mediáticos parecem-nos mais marionetes do que verdadeiros quadros porque defendem realidades que até pessoas iletradas discordam?

A liberdade de expressão é importante no capítulo das oportunidades, dos meios disponíveis e das garantias mas a liberdade de pensamento é mais importante ainda porque é muito mais profunda, sensível, prazerosa e inclusiva.

Podemos ter dificuldades ou até mesmo limitação fisiológica em expressarmos as nossas idéias mas no capítulo do pensamento tais insuficiências são quase impossíveis.

A liberdade de pensamento é mais original e torna o homem mais realizado enquanto um ser eminentemente pensante e comunicativo.

Amo a liberdade de expressão mas reverencio a liberdade de pensamento porque com ela me conheço e me reconheço, ou seja, sou mais EU.

A celebérrima frase de Decartes "Cogito ergo sun" harmoniza-se bem com o escopo desta abordagem, pois, a existência humana encontra razões no pensamento humano.

Na expressão podemos nos contradizer mas no pensamento não.Não conseguimos ser infiél no âmbito da introspecção ou da reflexão.

Até mesmo os apelidados de “bajuladores” são repreendidos quando através da liberdade de pensamento se reencontram com o seu verdadeiro EU.

Aquelas pessoas que fazem declarações bastante surreais ou fantasmagóricas (eivadas, as vezes, de paixão partidária ou outros interesses)nos meios de comunicação social não encontram respaldo ou homologação no campo do pensamento livre.

Que a liberdade de pensamento seja um exercício livre,constante e prazeroso. Que ela proporcione um verdadeiro deleite!

Tenho dito..!

Texto de Danilson Lata

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