Roboteiros de Luanda lutam contra a concorrência e a criminalidade
São uma das imagens da cidade e dão sustento a milhares de jovens que não têm outra forma de ganhar a vida na capital. Estão a desaparecer por "culpa" da crise, mas também da concorrência dos Kupapatas e pelo aumento da criminalidade nos bairros. São cada vez menos a circular pelas ruas de Luanda.

Estão nas portas dos mercados nas primeiras horas da manhã á procura de clientes. São normalmente jovens, entre os 15 e os 40 anos, conduzem um carro de mão de madeira ou ferro, com um pneu velho ou muito gasto. Com boa conversa, procuram convencer a todo o custo os que aí passam, principalmente as mulheres, para conseguirem alguém que pague pelo transporte de uma mercadoria, normalmente pesada. São uma imagem forte da cidade, sendo que em tempos passados "enchiam" as principais artérias da capital. Mas são cada vez menos.

Com a concorrência dos kumpapatas, motos de três rodas, que para além da mercadoria também transportam as pessoas, tornou-se cada vez mais difícil garantir um número diário aceitável de clientes. E mais recentemente com o fenómeno do crescimento da marginalidade nos bairros, são frequentemente assaltados, o que os leva também a desistir desta actividade.

São jovens que na maior parte das vezes saem do interior do País para a capital em busca de melhores condições de vida, percorrem diariamente vários quilómetros transportando com a força de braços vários quilos de mercadoria para levarem para casa poucos kwanzas. Hoje este valor não ultrapassa os 2.000 Kz por dia.

O trabalho consiste em transportar nos carros de mão as compras dos clientes do mercado até ao carro, táxi ou para a casa de quem compra. Mas são também os responsáveis por levarem a mercadoria dos comerciantes para o Processo (quintal que fica perto dos mercados informais para servir de armazém onde são guardadas as mercadorias que são comercializadas naquele espaço).

Os rendimentos estão a diminuir

João Zacarias, é da província do Cunene onde aos 12 anos começou a trabalhar como mecânico com o tio. Passados dois anos veio para Luanda com a irmã à procura de melhores condições de vida. Começou a trabalhar como mototaxista, mas a motorizada estragou-se. Depois foi trabalhar para uma empresa como tarefeiro, mas passado alguns anos faliu por conta da crise.

Já na idade adulta e com três filhos por criar foi obrigado a trabalhar como roboteiro. "Esse trabalho já não dá para muita coisa. Nós cobramos o valor de 50 Kz por cada caixa, mas como os clientes têm diminuído por dia acabamos por levar apenas 1.500Kz ou 2.000Kz por dia para casa".

No mercado da Estalagem, no município de Viana, e no mercado do Trinta também em Viana, é comum ver uma grande concentração destes trabalhadores pela dimensão e pela variedade de produtos que são comercializados nestes locais. Foi no primeiro que a reportagem do Expansão encontrou o Jonas, jovem de 23 anos com o ensino médio concluído e com um curso profissional de informática. Diz que trabalhou durante alguns anos como técnico de informática no Supermercado Nossa Casa, mas com a crise que a empresa viveu foi mandado para casa com a promessa de voltar tão logo a situação se resolvesse. De lá para cá já se passaram 2 anos e nada!

"Eu tenho o ensino médio concluído e um curso profissional também, se não trabalho numa empresa é mesmo por falta de oportunidade. O trabalho aqui é muito duro, até agora eu não fui indemnizado pela em[1]presa, sem dinheiro e sem emprego fui obrigado a fazer o que deu" lamenta, lembrando que ainda assim esta actividade evita que muitos jovens entrem no caminho da marginalidade, apesar de não serem reconhecidos pelas instituições oficiais. Não têm acesso, por exemplo, ao serviço de protecção social obrigatória.

Num tom triste mas com muita vontade de falar à nossa reportagem, na esperança de ser ajudado, Jonas afirmou gostaria de trabalhar na sua área de formação porque o dinheiro não compensa e ainda tem de lidar com a falta de educação de muitos clientes. "É um sonho voltar para a minha área de formação. Esse trabalho de roboteiro não é só trabalho para aqueles que vêem das outras províncias, é também feita por aqueles que nasceram na capital. Tudo por causa da falta de oportunidades e para não cairmos nos caminhos da delinquência "disse-nos.

Os roubos estão a aumentar

Valente tem 27 anos, aprendeu a fazer sabão com óleo queimado quando tinha sete anos. Trabalhou na fábrica durante anos mas depois esta faliu. Trabalhou como revendedor de roupas dos fardos e depois como lixeiro (pessoas que são pagas por alguns vendedores para levar o lixo que elas produzem nas praças, e depois de ter conseguido o dinheiro para comprar o carro de mão, que custa entre 13 mil a 16 mil Kz, foi trabalhar como roboteiro.

"Ontem quando eram dezassete horas fui assaltado e roubaram o meu carro. Agora tenho de carregar as mercadorias na cabeça ou pedir emprestado o carro de mão dos outros colegas. Hoje estou a trabalhar com o carro do meu colega que não veio. Mas tenho de juntar mais dinheiro, para comprar outro carro" disse.

Apesar de triste pelo roubo, Valente carrega um ar extremamente esperançoso, mesmo com as dificuldades, o jovem confessou à nossa reportagem que tem o sonho de construir a própria fábrica para produzir sabão. Independentemente das gargalhadas dos outros colegas que ouviam a entrevista, que tentavam minimizar as suas convicções, Valente não baixou a cabeça e disse várias vezes: "Eu acredito no meu sonho".

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