Makangolando: Calaram as armas e gritam as almas
Já lá vão dezasseis anos que as armas deixaram de emitir som ensurdecedor nos quatro cantos do país, depois da luta pouco inteligente entre irmãos orgulhosos no poder, que num dia de reflexão nem as mãos apertaram-se, sorriso trocaram e até ao momento nem desculpas pediram a Nação.

A estabilidade não é apenas ganho de um partido, é de todos angolanos que maduramente largaram as armas, saíram das matas com sentimento de construir Angola, pondo fim aos rostos banhados em lágrimas e o sangue que separou eternamente milhares de famílias. 

Mas, para o efeito, importa destacar a imagem do então Presidente da República, José Eduardo dos Santos, pela diplomacia no processo.

Passados dezasseis anos, a tão almejada Paz, pensada/desejada na forma tridimensional (política, económica e social) continua longe dos mwangolês.

Nem o básico temos…

Hoje, morremos mais do que no tempo dos conflitos, olhando pela estatística de morte por malária e outras doenças provocadas pelo débil saneamento básico, falta de agulha ou luva nos hospitais... Parece brincadeira, mas é verdade, aqui, direito à saúde é inexistente. 

Em plena Paz que dizem estarmos a viver, dar à luz parece um passaporte para a morte. Ainda assistimos crianças a não conhecer o mundo pela alegada falta de parteiras e, pessoas gravemente doentes a serem transportadas em tipoias porque o director X “aguentou” a ambulância.

“Estamos a sofrer male”, cantou Beto de Almeida

Com a banga do petróleo acabada, diversificação económica presa na imaginação, somos campeões na importação, quase nada produzimos. O pouco estraga aos olhos do pobre camponês, pela falta de escoamento, culpabilizado pelo acesso terrestre. 

O cinto aperta a cintura do pobre desnutrido que tem o aterro sanitário como fonte de sobrevivência.

Olha só alegria que a Paz traz!

Olha só alegria que a Paz traz!

No âmbito das comemorações do 04 de Abril, participei duma palestra sobre os ganhos no Ensino Superior com a efectivação da Paz, proferida pelo sociólogo e analista político João Paulo Ganga, que destacou o crescimento na formação de quadros, alertou a necessidade de mais rigor/qualidade na Casa do Saber.

Numa breve intervenção, apesar da pressão da organização, apoiando-se na deixa do palestrante que o “Conhecimento domesticado leva ao subdesenvolvimento”, descordei da ideia de existir Paz no ensino, olhando para o actual modelo, a falta de incentivo à Investigação Científica, uma via ideal para resolução dos problemas candentes na nossa sociedade, reconhecida pelo PR, João Lourenço, na abertura do Ano Académico, que nem uns míseros 1% no OGE tem. 

Quando estudantes em pleno ensino superior nem livros têm, porque os preços ofendem os bolsos rotos, são obrigados a sacrificar, para não serem enxotados em momentos de provas, tendo em conta "os olhos grossos” das universidades privadas.

 Que Paz se pode ter, quando cem escolas encerram por falta de professores? Estudantes sentam em latas por falta de carteiras e professores fazem greve pelo facto de não serem atendidas as justas reivindicações há cinco anos? Que vontade terão estes professores em ensinar?

Maka Estado!

Com os cofres quase carecas, é necessário que o Executivo escreva em segundo plano os processos-crimes, e priorize a minimização dos problemas básicos, porque “calaram as armas e gritam as almas.”

Por Guilherme Francisco

REAÇÕES

0
   
0
   
2
   
0
   
0
   
2
   
0
   
0