Mais de 600 crianças que estudavam debaixo de árvores estão há um mês sem aulas devido as chuvas
Mais de 600 crianças da escola do primeiro ciclo do ensino secundário de Kimefoto, que estudavam debaixo de árvores no município de Quimbele, no Uíge, estão há um mês sem frequentar as aulas devido as chuvas.

Pais e encarregados de educação lamentam o drama que vivem as crianças e dizem não perceber por que razão não se construiu, provisoriamente, uma escola de chapas de zinco, ao invés de barracas feitas com troncos de palmeiras.

A Escola do Primeiro Ciclo do Ensino Secundário de Kimefoto, feita de ramos de palmeiras, na foto, está localizada no município de Quimbele, na aldeia de Kimefoto, que dista 250 quilómetro da cidade do Uíge.

Aflitos com a situação, alguns professores e encarregados de educação da escola, sem estrutura física, designado "Colégio Kimefoto", descreveram o ponto de situação ao Novo Jornal e solicitaram anonimato, alegadamente devido a situação político-partidário naquela zona que, segundo eles, não é saudável.

"Não podemos reclamar. E quem assim proceder é considerado inimigo do Governo. Somos professores há anos nesta região do Uíge, e, desde 2020 que as crianças do "Colégio Kimefoto" (escola pública sem estrutura) estudam debaixo de árvores", relataram dois professores da escola.

Segundo estes professores, no papal e administrativamente a escola existe, e tem até uma direcção, mas, na prática, ela só funciona porque alguns professores, de boa-fé, fazem o sacrifício de ministrarem aulas aos pequenos debaixo das árvores.

Afirmam também que a escola tem director-geral, direcção pedagógica, pessoal administrativo e um chefe da secretaria e um total de 15 professores que fazem parte do quadro-docente, que trabalham em condições desumanas.

"Não temos departamentos nem gabinetes, trabalhamos todos debaixo das árvores e percorremos longas distâncias para lá chegar", descrevem.

De acordo com os professores, "dói observar as crianças a estudarem nessas condições", salientando que "politicamente não há uma esperança futura para os pequenos".

Ao Novo Jornal os docentes contaram que dos 15 professores, apenas três têm aparecido constantemente no Kimefoto para darem aulas.

"Os 12 professores, e o suposto pessoal administrativo ficam seis meses sem aparecer na "escola" e não são sancionados por alegadamente pertencerem ao partido político MPLA, na região", contaram.

De acordo com estes professores, ensinar debaixo de árvores contribui para o fraco desenvolvimento das crianças.

"As vezes duvidamos que estamos no século XXI. Não se admite isto em qualquer lado do mundo. O nosso desempenho também fica manchado", disserem.

Pais e encarregados de educação criticam a construção de novas cabanas como salas de aulas

"Até quando é que os nossos filhos vão estudar debaixo das árvores? Será que eles não vão conhecer aqui o que é uma carteira? Será que não são filhos desta Angola? Porque é que ao invés de construírem cabanas não constroem pelo menos escolas de chapas de zinco para as crianças não ficarem sem aulas?", questionou o encarregado Capemba Macutima, residente no município de Quimbele.

Paulo Sucano, também munícipe, contou ao Novo Jornal que teve de enviar para Luanda dois filhos seus para estudarem, por não haver alternativa na região de Kimefoto.

Sobre o assunto, o Novo Jornal tentou sem sucesso ouvir o director municipal da educação de Quimbele, Afonso Bernardo Bakwanguindo.

Governo do Uíge reconhece que a província necessita de mais escolas

No ano passado, o governador provincial do Uíge, José Carvalho da Rocha, disse, durante a visita do Chefe de Estado àquela província, ser "gritante" a falta de escolas na região.

"Aqui mesmo, na sua sede, ainda temos alunos a estudarem em escombros, temos alunos a estudarem debaixo das mangueiras e tem sido de facto um problema", referiu governante.

Conforme José Carvalho da Rocha, há necessidade urgente da construção de escolas em zonas fronteiriças, por haver ainda alunos, "particularmente aqueles que vivem na região de fronteira, como Maquela do Zombo, Milunga, Quimbele, que atravessam a fronteira e estudam na República Democrática do Congo".

"É de facto um problema que nós temos de resolver", frisou o governador.

No Uíge, existem em funcionamento 1.083 escolas do ensino primário, contudo, a província tem uma necessidade, segundo as autoridades locais, de mais 570 estabelecimentos escolares de vários níveis, dos quais 521 para o ensino primário.

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