Kwanza apreciou 33% face ao dólar e 49% face ao euro
Quebra na procura por moeda estrangeira, subida do preço do petróleo e compra de divisas pelos bancos às petrolíferas contribuem para a valorização da moeda nacional.

A moeda nacional apreciou 33% face ao dólar entre a primeira quinzena de Março do ano passado e 14 de Março deste ano e 49% face à moeda europeia. Em termos homólogos, um dólar passou da taxa média de câmbio de 615,3 Kz para 463,9 Kz, ou seja, menos 151,4 Kz. Já o euro passou de 756,7 Kz para 507,9, equivalente a menos 248,8 Kz, de acordo com cálculos do Expansão com base em dados do Banco Nacional de Angola (BNA).

Ainda assim, face ao início da reforma cambial, em Janeiro de 2018, a balança ainda está negativa para o Kwanza. Isto porque naquela altura cada dólar valia uma média de 165,9 Kz, o que pressupõe uma depreciação de 64% do Kwanza face à moeda norte-americana. Quanto ao euro, o Kwanza já depreciou 63% desde o início da reforma que, entre outros, tinha como um dos objectivos acabar com o diferencial (gap) enorme que existia entre o mercado formal e o informal.

Naquela altura, o gap do dólar era de 159%, já que cada nota de 100 USD valia 43.000 Kz nas ruas de Luanda, enquanto no BNA valia 16.592 Kz. Hoje, a taxa média de câmbio no mercado informal é de 515 Kz por dólar, o que faz com que o gap cambial seja de 11%. Quanto ao euro, o diferencial entre o formal e o informal passou de 167% para os actuais 13%.

Para o economista Nelson Silva, esta queda do gap faz com que hoje o negócio não seja tão apetecível, pois este diferencial que é uma espécie de spread (taxa que o banco ganha numa operação) está cada vez mais baixo. "Basta passar pelos locais onde antes havia grande concentração de kinguilas para ver que o negócio não é o mesmo. E o diferencial da venda de divisas na banca e no mercado informal contribui significativamente para a quebra do negócio", disse.

A diminuição da procura - até porque o país hoje tem menos expatriados - e o facto da banca hoje estar a funcionar de forma mais célere faz com que se recorra menos às ruas. "Enquanto o euro e o dólar foram ganhando espaço ao kwanza, o negócio foi prosperando, inclusive havia quem acusasse os funcionários bancários. Mas hoje o cenário é diferente muito à custa da política de reforma cambial", considerou o economista.

Já o consultor Galvão Branco entende que a recente valorização do kwanza resulta essencialmente da introdução do câmbio flutuante, no âmbito da reforma cambial em curso do País, que tem permitido o mercado autoregular-se. "A introdução dessas medidas fez com que o BNA reduzisse a sua exposição ao mercado, que passou a funcionar com as regras de uma economia aberta. E mais recentemente o facto dos operadores passarem a dispor de uma plataforma onde negoceiam livremente as divisas, também contribuiu para a valorização da moeda nacional", disse.

O consultor entende que a manterem-se estes pressupostos, a tendência de queda do dólar e euro vai continuar. "Mas é preciso não esquecer que a procura de moeda estrangeira, de certa forma, também está condicionada devido à pandemia da Covid-19, que limitou as viagens. Ainda assim, acredito que as reformas têm favorecido a moeda nacional", concluiu.

A tendência de valorização do Kwanza foi confirmada esta semana pela agência financeira Bloomberg. Desde o princípio do ano, o Kwanza valorizou 20% impulsionado pela subida dos preços do petróleo, aumento da estabilidade macroeconómica, política monetária e subida do rating. Até agora, é a moeda que mais valorizou face ao dólar em 2022.

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