Jovens aderem cada vez mais a ritual de feiticismo para ficar rico
Aos 31 anos, Manuel João sonhava com uma vida melhor. E, por isso, levantava cedo para trabalhar num armazém no Cazenga, onde ajudava a descarregar mercadorias e, no final do dia, conseguia algum dinheiro para satisfazer certas necessidades.

Mas, Manuel queria outro emprego, em que pudesse ter um ordenado mais digno, que facilitasse a realização de projectos pessoais, como sustentar melhor os filhos, ter casa e carro.

De estatura baixa, o jovem mantinha a convicção de que no futuro seria melhor e tornar-se-ia num homem rico. Como inspiração, ele tinha histórias de estrangeiros que fazem negócios no país e, tendo começado do nada, hoje, movimentam grandes somas de dinheiro nos armazéns.  

Apesar da esperança, o sonho estava, ainda, longe de acontecer. Mais difícil se tornou, principalmente, por Manuel gastar muito dinheiro na aquisição de bebidas alcoólicas.

"Eu bebo, para esquecer algumas frustrações. Não é fácil ver jovens como eu a andarem de grandes carros quando eu nem uma bicicleta tenho”, desabafou.

Cansado com a vida que leva, preferiu "ultrapassar pela direita”, por achar que só do trabalho não chegaria aos objectivo que pretendia, entre os quais o de ser rico. Por isso, procurou um quimbandeiro, onde diz ter recebido feitiço para mudar de vida.

Para o suposto feitiço funcionar, o quimbandeiro, que já tinha trabalhado com alguns amigos de Manuel, exigiu certos sacrifícios ao jovem: abusar sexualmente da mãe era uma das missões.

O quimbandeiro chamou a atenção que o incumprimento do ritual pode ter consequências, entre as quais padecer de doenças do foro mental (maluco).

Num sábado, por volta das 19h00, o jovem dirigiu-se à casa da mãe, município de Cacuaco, onde encontrou a progenitora, ainda, debilitada em consequência do AVC que sofrera. Aproveitando-se desse estado da idosa, de 72 anos, Manuel, sob efeito de álcool partiu para a agressão sexual.

Momentos depois do coito, a mãe, desgostosa, teve uma crise e acabou por morrer. Ao ver a idosa morta, o jovem meteu-se em fuga, mas foi descoberto por vizinhos que, nervosos, partiram para a agressão física, levando-o, depois, à esquadra.

O suspeito foi detido, indiciado no crime de agressão sexual, concorrido com homicídio voluntário. E, o sonho de Manuel de uma vida melhor tornou-se um pesadelo.

O caso de Filomena  

As dificuldades da vida fizeram com que a jovem Filomena João, 34 anos, aceitasse fazer tratamentos espirituais com um suposto quimbandeiro, para alcançar riqueza financeira.

Mãe de quatro filhos, a viver em casa arrendada, submeteu-se a tratamentos que se consubstanciavam a constantes abusos sexuais durante três meses. Esse era o sacrifício a que Filomena teve de passar para conseguir riqueza, a partir das promessas feitas por um jovem que fazia tratamentos espirituais.

Três meses depois, Filomena notou que foi apenas usada e, por cima disso, perdeu quase meio milhão de kwanzas. A mulher deu queixa à Polícia e o suposto quimbandeiro acabou detido, sob acusação de extorsão, falsificação de dinheiro e burla.

Esses dois relatos são comuns, nos últimos tempos. Vários cidadãos queixam-se de terem sido enganados, com falsas promessas de conseguirem atingir a riqueza, por supostos quimbandeiros, que os submetem a tratamentos estranhos, inclusive em lugares como cemitérios.

Em reacção aos casos, o psicólogo Emanuel Capita considerou inaceitável que um jovem consciente se deixe enganar por práticas do género, sublinhando que "é com trabalho e negócios que se ganha dinheiro digno”.

Homem engravida a filha

Os crimes de agressão sexual têm ocorrido com frequência no seio de muitas famílias, sendo que boa parte dessas práticas é protagonizada por pessoas mais próximas das vítimas.

Uma dessas pessoas que sofreu abuso sexual do pai é Esperança Pascoal, uma menor de 14 anos, que, fruto dessa acção, está grávida de três meses.

O caso ocorreu, na comuna da Camama, onde, na ausência da mãe, o homem, de 44 anos, abusava a filha. A vítima não conseguia denunciar o agressor, porque este a ameaçava de morte.

José Silva realizava os abusos sexuais às primeiras horas do dia, depois que a esposa, com quem vive há 18 anos, saía para a venda ambulante de peixe.

Desempregado, há quatro anos, o suposto agressor sexual passava o dia em casa, a cuidar dos filhos e de pequenos afazeres domésticos.

Passado algum tempo, a mãe descobriu a gravidez, em função das transformações no corpo da filha: clareza da pele, aumento do volume dos seios e a barriga mais crescida. Mas, com medo do pai, a menina tentou esconder a situação.  Um dia depois, a menor escreveu uma carta, onde relatava os abusos que sofria, de forma reiterada, por parte do pai.

A notícia caiu como uma bomba para os membros da família. Ao tomar conta de que terá sido descoberto, José Silva fugiu de casa. Mas, quando regressou, a esposa e alguns familiares agrediram-no.  O suspeito de engravidar a filha tentou o suicídio, ao fazer vários cortes ao pescoço. O acto foi impedido por um familiar.

A esposa colocou fim à relação de 18 anos, enquanto José Silva foi detido e o processo corre os seus trâmites legais. 

Detenção de prevaricadores

O porta-voz da Polícia Nacional, em Luanda, superintendente Nestor Goubel, explicou que o caso de José Silva foi encaminhado ao Ministério Público.

Sublinhou que a corporação tem recebido casos de agressão sexual todas as semanas, cujos autores são responsabilizados criminalmente.

Nestor Goubel aconselhou as vítimas a denunciarem os abusos sexuais, de forma a diminuírem o sofrimento a que são submetidas.

O porta-voz adiantou que a campanha visa, ainda, ajudar a sociedade a compreender esta problemática e a tratarem das vítimas em todos os aspectos.

Em termos de resultados, referiu, que, em seis meses, conseguiu-se aumentar o número de denúncias nas esquadras policiais sobre casos de agressão sexual.

"Claramente é pouco, mas nos permite continuar a trabalhar, no sentido de diminuirmos este problema da sociedade luandense que, diariamente, causa vítimas”.

Fonte: JA

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