JLO já aprovou despesas de 2,8 mil milhões dólares não previstos no OGE
Projectos agora aprovados sem prévia cobertura orçamental vão desde a construção de centralidades à modernização tecnológica e expansão da rádio estatal. Fontes ministeriais explicam decisões do Presidente com prerrogativas legais. Há certos casos em que os projectos, apesar...

.Presidente João Lourenço aprovou despesas avaliadas em, pelo menos, mais de 2,8 mil milhões de dólares para beneficiar projectos não previstos no OGE ou que foram inscritos com valores muito inferiores aos aprovados em despachos presidenciais, nos primeiros quatro meses.

A recentemente anunciada despesa de cerca de 782 milhões de dólares para a construção das centralidades de Cabinda, Cunene e Bengo é uma das que não constam do OGE de 2021 que, entretanto, reserva despesas para a construção de outras três centralidades, nomeadamente de Saurimo, Carreira de Tiro e Tucuve. O somatório do investimento previsto para estas três últimas é, no entanto, de cerca de 229 milhões de kwanzas (360 milhões de dólares), muito abaixo do financiamento aprovado para os novos projectos.

Fontes das Finanças e da Construção, que falaram oficiosamente, justificam a situação com a prorrogativa do Presidente da República para “inscrever novos projectos do Programa de Investimentos Públicos de significativa importância para o alcance dos objectivos do Plano de Desenvolvimento Nacional 2018-2022, com fonte de financiamento assegurada, e por contrapartida de projectos de baixa ou nula execução”, conforme a alínea f) do artigo 3.º da Lei que aprova o OGE de 2021.

“Provavelmente é por estas centralidades terem já financiamento garantido”, explica fonte da Construção, enquanto a fonte das Finanças calcula que “depois a Construção poderá inscrever estes projectos no OGE de 2022 ou vão substituir as centralidades que estão previstas”.

No entanto, João Lourenço aprovou outras despesas não previstas no OGE. É o caso dos 653,2 milhões de kwanzas, equivalentes a 989,6 mil dólares destinados à “contratação emergencial para o fornecimento de electricidade à Fábrica Têxtil do Dondo”, bem como a despesa de mais de 1,3 mil milhões de kwanzas, equivalentes a cerca de 2 milhões de dólares para a empreitada de obras públicas para a contenção e estabilização da ravina na zona sul da centralidade do Zango 5, e ainda mais de 39,1 milhões de kwanzas (59,3 mil dólares) para o serviço de fiscalização da referida empreitada”. No conjunto destas despesas constam as que foram aprovadas, no âmbito do PIIM, para a concepção e construção da ponte sobre o rio Macondo, no troço Calunda/Macondo, no Moxico, no valor de 2,793 mil milhões de kwanzas (4,329 milhões de dólares), e o montante para a concepção e construção da ponte sobre o Rio Inwena, no mesmo troço, no valor de 2,521 mil milhões de kwanzas (3,908 milhões de dólares).

A despesa de 3,7 milhões de euros (4,454 milhões de dólares) “para a aquisição de serviços de consultoria estratégica, organizacional, operacional e tecnológica, no âmbito do processo de organização e funcionamento da Agência Reguladora de Certificação de Carga e Logística de Angola” e outra de 39,950 milhões de dólares para a cobertura do projecto de modernização tecnológica e expansão do sinal da Rádio Nacional de Angola também foram aprovadas por João Lourenço e não constam do OGE. O mesmo acontece com a despesa de 10,990 milhões de euros (cerca de 13,3 milhões de dólares) “para a adjudicação do Contrato de Fornecimento de Software, Hardware e Treinamento para o Sistema de Observação da Terra”.

No leque das despesas que não constam nas previsões do OGE e foram aprovadas pelo Presidente da constam ainda algumas cujos valores não estão expressos nos respectivos decretos presidenciais, como é o caso da “despesa para contratação emergencial, para a adjudicação do contrato de Instalação da Antena Gateway da Banda KA, para gerir as capacidades previstas do ANGOSAT-2”.

O VALOR contactou o Ministério das Finanças para os devidos esclarecimentos, mas, até ao fecho, não obteve respostas.

Diferenças abismais

Além das despesas que não constam do OGE-2021, o VALOR verificou também a existência de diferenças consideráveis entre os valores previstos no OGE e os aprovados para determinados projectos. É o caso da despesa para a construção e apetrechamento do Hospital Geral do Bengo, cuja autorização do Presidente da determina o equivalente a 63,180 milhões dólares para a construção e mais 935 mil dólares para a fiscalização. No OGE, a referida obra está inscrita com um orçamento de 4 mil milhões de kwanzas, o equivalente a cerca de 6,060 milhões de dólares. Há ainda a despesa para a construção e apetrechamento do Hospital Pediátrico do Huambo, autorizado por João Lourenço, com uma despesa de mais de 123,703 milhões de euros (cerca de 149 milhões de dólares) e de fiscalização no valor de 1,855 milhões de euros (cerca de 2,3 milhões de dólares). No OGE, está inscrita com despesa de 114.430.846,00 kwanzas, equivalentes a 170,4 mil dólares.  Diferença considerável também se regista na despesa prevista e aprovada para a construção e apetrechamento do Hospital Geral do Bailundo. No OGE, a despesa prevista é de 3,129 mil milhões de kwanzas, enquanto João Lourenço aprovou mais de 50,449 milhões de euros (cerca de 60,730 milhões de dólares) para a construção e mais de 756,7 mil euros (910,9 mil dólares) para a fiscalização.

Entre as despesas aprovadas pelo Presidente com valor superior ao previsto, consta também o equivalente a 13,073 milhões de dólares para a construção, apetrechamento e respectiva fiscalização do Instituto de Anatomia/Medicina Forense (morgue). No OGE, a despesa prevista é de 1,423 mil milhões de kwanzas, o equivalente a 2,2 milhões de dólares. 

VALOR ECONÓMICO

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