Filhos do comandante da polícia morto em plena missão estão a sofrer
Clamam por ajuda. Tem oito filhos que não estudam.

Morto a tiro, em Junho de 2020, por um grupo de marginais, Faustino António Luamba, de 44 anos, então comandante da Polícia Nacional na esquadra da Boa-Fé, município de Cacuaco, deixou 27 filhos. Uma das mulheres e o seu filho mais velho falam das dificuldades por que passam, desde a morte do esposo e pai, sendo que todos os oito filhos desta mulher não estudam por falta de dinheiro

Era tido como o pilar da família, homem de fácil trato e sempre disposto a ajudar. A instabilidade para a família Luamba começou com a morte do único comandante, por razões que, até hoje, não entendem, inclusive, a sua mãe saiu do Uíge para Luanda só para ver o rosto dos assassinos de seu filho.

Faustino António Luamba deixa um total de 27 filhos e, em conversa com uma das viúvas, Ruth Dala, de 41 anos de idade, tomamos conhecimento que os filhos, desta que é considerada pela família Luamba como a esposa oficial, passam por dificuldades de várias ordens. Os oito filhos deixaram de estudar por falta de dinheiro.

Sentada na sala de espera do Tribunal Municipal de Cacuaco, a tristeza no rosto e a fotografia tipo passe do comandante, pendurada no pescoço, a denunciou para a imprensa. Ruth não poupou esforço para falar connosco, porque “não tem sido fácil”, depois da morte de seu esposo.

“Meus filhos acostumaram-se com o pai. Tudo era com o pai que tratavam e, de pé para mão, tomamos conhecimento que lhe mataram. Não estamos a entender nada. Até hoje pergunto-me se o meu marido estava com quem e andou como? Foi graduado num Sábado e lhe mataram na Segunda- feira”, disse.

Os filhos não estudam, todos os oitos, por causa da fraca capacidade financeira. Disse ainda que todos os documentos do comandante perderam e, apesar de já ter recorrido ao Comando Provincial, não conseguiu recuperar nem o bilhete de identidade, carta de condução, cartão multicaixa, muito menos os documentos da viatura.

“Desde que comecei a tratar das questões do meu marido, não recebo nada. Estou a virar-me com kilapes que faço na praça, para conseguir vender e retirar o lucro de pelo menos 1000 Kwanzas, para sustentar os meus filhos. O pai é quem sustentava os filhos. Recebemos apoio do Comando de Viana e depois fiz um pedido de valores, no mês de Setembro, que recebemos 230 mil Kz. Daí, até hoje, não recebemos mais nada”, reclamou.A sobrevivência dos oito filhos é feita através de dívidas. Embora vivam numa casa própria, não há muitas condições de habitabilidade, para além de ser apertada, pelo que o marido tinha previsões de construir uma casa melhor. Ruth disse que os marginais pelo menos deviam sentir pena de seu marido, partir-lhe a perna ao invés de tirar-lhe a vida. “Destruíram a casa completa e a formação dos meus filhos”, sentenciou.

“Isso tudo foi uma armação” Tem sido muito difícil viver, para António Francisco Luamba, de 18 anos, o filho mais velho da relação entre Faustino Luamba (o comandante) e Ruth Dala. Disse que nenhum dos seus irmãos está a conseguir estudar, não há tranquilidade e tudo que querem é que seja feita a justiça.

“Isso tudo foi uma armação, não era o dia dele. É um imprevisto e um dia vai passar. Eu peço que não deem flores para o meu pai, e sim vento, porque ele está a sentir o túmulo do Mundo no seu peito”, disse.

António disse que seu pai conversou muito com eles, era uma pessoa aberta com todo mundo e não entende como é que teve de conhecer a morte tão cedo. O pai várias vezes dizia que tudo que seus filhos têm de fazer é estudar, aposto no ensino e no seu trabalho, por isso, António também está disposto a seguir o que o pai aconselhava, mas não sabe como.

Pergunta-se como ele e os irmãos irão estudar se não têm dinheiro, uma vez que a pessoa que os ajudava é esta que foi assassinada. António não conseguiu concluir o médio, parou na 10ª classe, uma vez que estudava num colégio privado.

O seu tio, António Jacinto, irmão de seu pai, disse ainda que houve uma tentativa de enquadrar o sobrinho na Polícia Nacional, tendo na altura registado alguma dificuldade, porque não tinha ainda 18 anos e estava sem todos os documentos certos. Entretanto, mesmo depois de já ter a situação resolvida, não entendem como é que o filho mais velho não foi enquadrado.

Sentem-se abandalhados por uma instituição cuja vítima muito deu. Conta que seu irmão começou aos 18 anos, na vida militar, aguentou a guerra em Cangola – no Uíge, não foi morto, e é de lamentar que venha a ser morto agora que o país está em paz. O irmão, para que conste, está há 10 anos na Polícia Nacional. Para além dele (Faustino Luamba- a vítima), tinham um outro irmão que também era polícia, mas que acabou por falecer de doença.

O comandante é o primeiro filho de dona Luiza Miguel. A mãe queria que seu filho fosse enterrado no mato, mas por conta da Covid-19 não foi possível e, hoje, o comandante tem como morada o cemitério da Santa Ana.

Não tendo tido a oportunidade de se despedir do filho, Luiza envidou esforços para vir a Luanda, só para ver o rosto daqueles que tiraram a vida do comandante, uma vez que aproximava-se o dia do julgamento.

“Não sei que mal meu filho fez, para ser morto e deixar-me na amargura. Que crime fez ele para ser morto? Preciso voltar ao mato com esta resposta”, disse ela, que apesar da perda se segurava para não derramar mais lágrimas.

Por outro lado, disse não compreender como é que a pessoa que matou o seu filho não lhe mataram também. “A mãe dele está a feliz, a comer e a beber, enquanto eu estou triste, a gemer e a chorar. O Estado está a fazer mal. Pessoa se matou, lhe mata também. Assim as duas mães ficam a gemer”, sublinha.

Dona Luiza faz aquela defesa porque acredita que os marginais que mataram seu filho, por mais que sejam julgados, depois serão libertados e estará nas ruas para voltar a matar alguém. “Nem um ano vai fazer, amanhã vão-lhe tirar embora”, disse, ela, cujo filho a mimava bastante.

Na última Sexta-feira, 9 de Abril, estava previsto o Tribunal Municipal de Cacuaco ter começado o julgamento dos quatro réus, acusados de terem tirado a vida do comandante. Marcado para ter início as 10h, até as 13 horas os detidos ainda não se tinham feito presente na sala de audiência, pelo que o julgamento foi adiado “sine die”.

Os réus Pereira Benga “Percy”, de 32 anos; Jorge Saraiva, de 29 anos; Marcelo Almeida “Pausado”, de 28 anos e Benedito Nazário “Da Beleza”, de 24 anos, estão a ser acusados da prática dos crimes de roubo concorrido com homicídio, porte ilegal de arma de fogo e consumo de estupefaciente.

Durante o interrogatório negaram a autoria dos crimes. Constam dos autos que Jorge, Pereira e Marcelo, em companhia do seu comparsa prófugo, conhecido apenas como Negrinho, gizaram um plano de efectuarem assaltos de telemóveis e valores monetários na via pública aos pacatos cidadãos.

Com uma AKM e uma pistola de marca Barak e uma motorizada, puseram-se a procura de suas vítimas, tendo, por volta das 21h40 minutos do dia 29 de Junho de 2020, os três, vislumbrado, no bairro Belo Monte, concretamente nas cercarias da paragem de táxi da Nova Cimangol, numa zona bastante escura e deserta, a vítima de 44 anos, o comandante Faustino António Luamba, em companhia de Graciono Mbambi Joaquim.

Pegos de surpresa, como contam os autos, os dois foram imobilizados e, colocados com a pistola e a AKM, obrigados a entregarem os telemóveis e o dinheiro. Não assentido ao comando dado, a vítima tentou desarmar o réu Jorge Saraiva, o que desencadeou uma luta corporal entre ambos.

Vendo que estava em desvantagem, Jorge efectuou um disparo contra o comandante e o seu comparsa, Pereira Benga, acompanhou, tendo os dois feito um total de cinco disparos contra a vítima, dois na região do antebraço esquerdo e três nas regiões do abdómen do lado esquerdo e lombar, do mesmo lado. Roubaram-lhe a mochila, que contia no seu interior uma camisa, chapéu, passadores de inspector chefe da PN e um telemóvel.

Gentileza OPaís

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