Crédito ao comércio cai 4,5% e já não lidera os empréstimos bancários
Se até Fevereiro era o comércio que mais beneficiava da banca, com créditos acima de 1 bilião de kwanzas, agora é a vez do sector de tratamento de águas e distribuição de energia ocupar esse lugar. Só em Maio, o ramo registou um crédito de 1,3 biliões de Kwanzas, 28,2% do total concedido.

O crédito distribuído ao sector do comércio por grosso e retalho, segmento que sempre se destacou na captação de recursos junto da banca comercial, encolheu 4,5% para 1,1 bilião de kwanzas, perdendo assim a posição de líder no crédito bancário, de acordo com o balanço até Maio da Repartição do Crédito por Ramo de Actividade do Banco Nacional de Angola (BNA).

Com isto, o comércio perde para o sector de "Captação, Tratamento e Distribuição de Água" a liderança do crédito, que, no período, registou, isoladamente, 1,3 biliões de kwanzas junto dos bancos comerciais. Ou seja, em Maio, o sector de Captação, Tratamento e Distribuição de Água representou 28,2% do total de crédito concedidos pela banca por sector de actividade, numa altura em que o Comércio por Grosso e Retalho já só representava 23,9% sobre o total do período, precisamente 4,6 biliões de kwanzas.

Actualmente, depois do crédito ao comércio, que agora está na segunda posição, é o crédito a particulares que se segue na lista. No período, os cidadãos de forma individual , levaram 837,12 mil milhões de kwanzas, um avanço de 0,7% face a Janeiro deste ano. Segue-se na quarta posição o sector da Construção, que também já liderou a absorção de cré dito em tempos antes da crise. Em Maio deste ano, o ramo registou um total de 592,48 mil milhões de kwanzas. A indústria transformadora fecha os cinco maiores ramos de actividades que mais levam crédito, com um total, no período, de 520,30 mil milhões de kwanzas.

A queda dos empréstimos do sector do Comércio tem acompanhado a tendência de redução do crédito total. De Janeiro a Maio deste ano, o stock de crédito concedido por sector de actividade encolheu 0,8% para 4,6 biliões de kwanzas. Apesar de o stock de crédito geral ter caído se comparado entre Janeiro e Maio, os empréstimos sobem marginalmente entre Abril e Maio. No período, registou-se uma subida de 2% no crédito, ao sair de 4,60 biliões de Kz para os 4,68 biliões de Kz.

A explicar a queda nos financiamentos à economia, no geral, e ao comércio, em particular, está, na visão de empresários e analistas económicos, a situação económica do País que ficou agravada pela pandemia da Covid-19, mas que já se recupera dos seus efeitos, além do receio da banca para o malparado, que tal como o Expansão anunciou na última edição, já vale 20% do total. Segundo o economista Alberto Vunge, os bancos têm hoje mecanismos e estão mais preparados para identificarem projectos económicos viáveis e não viáveis, sejam estes do sector do comércio, sejam de outras áreas de actividade.

Para Alberto Vunge, quanto maior for o volume de malparado na carteira de crédito dos bancos, mais exigências os bancos colocarão na libertação desses fundos. "Não é boa notícia (para os clientes), porque, quanto maior for o malparado, maior será a preferência pela liquidez por parte dos bancos. Vão conceder menos créditos, por um lado. Por outro, alto nível de malparado significa mais risco, e mais risco significa maior retorno esperado pelo banqueiro na concessão de créditos. Os bancos vão cobrar mais juros, em teoria", explica o analista.

Reformas apertam no crédito

Aliás, Alberto Vunge lembra que, com as reformas do subsistema financeiro bancário e a pretensão de o BNA se equivaler, enquanto supervisor de sistema financeiro, aos principais supervisores do mundo ocidental, fica claro que as regras de governo do risco de crédito são exigentes. "Penso que os bancos hoje adoptaram um conjunto de medidas para mitigar o malparado nas suas carteiras de créditos. Mas de Janeiro à Março a média foi de quase 22%, com um crescimento de quase 4 pp entre Janeiro e Março. Não podemos dizer que os bancos estejam a falhar no seu desiderato de melhoria da qualidade do crédito porque não sabemos destes 21,18% quanto é imputável aos créditos concedidos neste ou noutro paradigma", apontou.

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