Comissão Multissectorial de combate a covid deve 100 milhões ao Hotel Mucinga Nzambi
Hotel atravessa crise profunda, foi obrigado a mandar 80 funcionários a casa. Funcionários querem manifestar defronte a comissão de combate a covid-19.

A unidade de três estrelas não recebeu até hoje o pagamento referente à acomodação dos idosos, o que provocou o seu encerramento este mês. Mais de 80 funcionários do hotel foram para o desemprego com nove meses de salários em atraso e pretendem, caso não recebam os seus ordenados, manifestar-se em frente à sede da Comissão Multissectorial.

Uma fonte da Comissão Multissectorial para Prevenção e Combate à covid-19, assegura que o assunto "está a ser tratado ao mais alto nível e que o pagamento será feito brevemente".

Cerca de 100 idosos e 20 funcionários que estiveram hospedados no Hotel Mucinga Nzambi, no município de Viana, regressaram ao "Beiral", no distrito do Rangel, em Janeiro último, depois de o lar ter sido reabilitado.

A transferência dos mais-velhos para o hotel foi determinada pelo Governo Provincial de Luanda (GPL), após tomar medidas preventivas e de contenção da propagação do novo coronavírus, visto que os idosos pertencem a um dos principais grupos vulneráveis.

O então governador provincial de Luanda e membro da comissão, Sérgio Luther Rescova Joaquim, falecido em Outubro de 2020, foi quem autorizou o realojamento dos idosos no início do aparecimento da pandemia em Angola.

Saúca Cari, o gerente do hotel, disse ao Novo Jornal que a Comissão Multissectorial para Prevenção e Combate à COVID-19 apenas pagou os primeiros três meses de alojamento e neste período a unidade hoteleira funcionava com normalidade, não tendo os problemas que surgiram após a falta de pagamento.

Segundo este responsável, o hotel encontra-se encerrado desde o dia 12 deste mês com um atraso salarial de nove meses e com dívidas aos fornecedores.

"Há quase um ano que estamos sem salário e tivemos de suspender actividade laboral de todos os trabalhadores porque não temos condições para funcionar por falta de dinheiro", expôs.

O gerente contou que, quando do realojamento dos idosos no hotel, a unidade suspendeu os serviços a outros hóspedes e clientes, passando apenas a prestar única e exclusivamente serviços aos idosos do "Beiral" durante 10 meses.

"No contrato que tivemos o hotel passou a ser um Beiral provisório, estivemos totalmente fechados e deixámos de receber clientes, cedemos todos os quartos, outros foram transformados em escritórios, áreas hospitalar e farmácia. Quando o Beiral saiu houve a degradação do imóvel e quando tentamos reabrir pensámos que fossemos angariar novamente os nossos clientes, mas isso não foi possível porque os clientes reclamavam da degradação do hotel", disse.

"De momento não temos como manter os postos de trabalho dos funcionários nem pagar os salários atrasados", acrescentou.

Saúca Cari diz que durante a estadia provisória do lar "Beiral", o hotel é que se encarregava de fazer a manutenção, a expensas próprias.

"O GPL não tinha uma equipa de manutenção aqui, era a nossa equipa a tratar das coisas e depois da saída dos idosos trabalhámos durante cinco meses a tentar alavancar a empresa para pagar as despesas, sobretudo os salários, mas não deu certo porque o hotel não está em condições", contou.

Entretanto, soube o Novo Jornal, dos 90 quartos existentes na unidade hoteleira, apenas 20 estão em condições para alojamento.

O Novo Jornal constatou que a cozinha, assim como o restaurante e pátio, estão degradados, existe capim seco à volta do jardim, que no passado recente, coloria o hotel.

Quem agora entrar no Hotel Mucinga Nzambi vai deparar-se com uma unidade degradada, e ter a sensação de estar num hotel abandonado.

Segundo o gerente do hotel, o que falta apenas é que o Estado pague a dívida que contraiu para a direcção activar a sua actividade.

Saúca Cari assegura que tão logo o Governo liquide a dívida, a primeira coisa que a direcção do hotel fará é pagar os nove meses de salários em atraso.

"A primeira coisa a fazer é pagar os salários e reparar o imóvel que é o nosso emprego. Há funcionários a passar por necessidades precárias e isso nos aflige", narrou.

No entanto, segundo o Novo Jornal, a princípio o hotel pensou que a dívida fosse por parte do Governo Provincial de Luanda, mas o GPL deixou claro à direcção do hotel, através da empresa Iinvestra, SA, (intermediária nas negociações) que o assunto é da responsabilidade da Comissão Multissectorial para Prevenção e Combate à covid-19.

O gerente do hotel afirmou que a Comissão Multissectorial aceitou ser o dono da dívida e prometeu efectuar o pagamento.

Os mais de 80 funcionários pretendiam manifestar-se em frente ao edifício da Comissão Multissectorial para Prevenção e Combate à COVID-19, no princípio desde mês, e a manifestação só não aconteceu porque a comissão respondeu à carta dos empregados e fundamentou que a dívida vai ser paga oportunamente.

Sobre o assunto, o Novo Jornal contactou a Comissão Multissectorial para Prevenção e Combate à COVID-19 para obtenção de esclarecimento, que a princípio não se mostrou disponível para abordar a questão.

No entanto, uma fonte desta instituição, que solicitou anonimato, assegurou que o assunto é tratado ao mais alto nível e que brevemente o pagamento será feito à empresa Investra, SA, que irá fazer a transferência para a conta do hotel.

"O assunto é do domínio do coordenador, o ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, general Francisco Pereira Furtado e da senhora ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira, que têm abordado essa questão, entre os vários assuntos", disse a fonte.

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