Centenas de enfermeiros a trabalhar sem salários há três meses
Vários destes funcionários que começaram a trabalhar em Fevereiro dizem estar a enfrentar dificuldades para sobreviver e que estão fartos de estar a subsidiar o Estado. Sindicato alerta para o "jogo do empurra" de responsabilidades entre as autoridades.

Centenas de enfermeiros contratados pelo Ministério da Saúde (MINSA) que começaram a trabalhar em Fevereiro ainda não receberam qualquer salário, apurou o Expansão junto de vários destes profissionais, que se queixam de estar a subsidiar o Estado para exercer a sua profissão desde que foram contratados no âmbito de um concurso público realizado para o efeito.

Tratam-se de funcionários do Centro Especializado de Tratamento de Endemias e Pandemias (CETEP), do hospital do Prenda, no Centro de Saúde do K.K, bem como alguns profissionais de Catete. Ao que o Expansão apurou, no CETEP estão 170 enfermeiros sem terem recebido qualquer salário, enquanto no hospital de Catete, dos 106 que lá começaram a trabalhar, apenas 10 já foram remunerados. Vários destes funcionários públicos dizem estar a enfrentar dificuldade para sobreviver.

Joana Pedro, nome fictício, disse que procurou uma outra fonte de rendimento, ao fazer pequenos negócios no seu bairro, mas devido ao aumento de delinquentes nos últimos meses, o seu negócio não teve sucesso. "Enquanto não tenho vencimento dependo do apoio de alguns familiares para fazer as refeições", contou.

No CETEP, na semana passada os lesados tiveram uma reunião com a direcção do hospital onde foram informados que o salário atrasou porque a instituição não constava no Orçamento Geral do Estado. "Alguns dos nossos colegas já receberam salários no mês passado e disseram que o nosso grupo vai receber no final deste mês, vamos continuar a esperar", contou uma fonte ligada ao processo.

"Vão buscar outros meios de sobrevivência"

Para o sindicato dos enfermeiros, a falta de salários dos novos enfermeiros é da responsabilidade da direcção provincial de saúde de Luanda. "O sindicato tem conhecimento dessa situação e já indagámos o gabinete provincial de saúde e eles responderam que os salários estão a ser pagos paulatinamente e que alguns já receberam os salários", referiu o responsável do sindicato, Afonso Kileba.

Todavia, é um processo que o sindicato está a acompanhar, porque o número de funcionários que não foram remunerados é elevado. "Por exemplo, num horizonte de 106 funcionários recentemente enquadrados oriundos de diversas províncias do País ter apenas 10 que receberam salários significa que quase que todos não receberam. Fora a questão da residência que ainda não lhes foi atribuída", disse.

Afonso Kileba considera que Governo está a "descartar as suas responsabilidades" e atribui culpas a terceiros. "Falamos de humanização no Ministério da Saúde, enquanto o funcionário da saúde não é humanizado. O funcionário que não recebe salário há três meses, este indivíduo encontra outros meios de sobrevivência, e uma delas é sacrificar os pacientes", ressaltou.

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