A curva apertada do velho Samas
"Questionei-lhe se, com a idade a avançar, teria forças suficientes para aguentar a corrida em 2022. A sua resposta: eu, com os meus 73 anos, tenho mais força que você aos seus 19 anos."

Ponto prévio: Que o velho Samas quer ser cabeça-de-lista nas próximas eleições, só têm dúvida os desatentos. Antes do congresso anulado, ao serviço do nosso Vanguarda, questionei-lhe se, com a idade a avançar, teria forças suficientes para aguentar a corrida em 2022. A sua resposta: eu, com os meus 73 anos, tenho mais força que você aos seus 19 anos. Gerou-se gargalhada na sala onde decorria a conferência de imprensa, na Maianga, em Luanda. É claro que enquanto jornalista, aquele momento foi igualmente de múltiplos orgasmos para mim, apesar de me manter intacto.

 Mas a minha pergunta não veio por acaso. É que o velho já vinha titubeando entre continuar a ser o nguvulo máximo e, em caso de não conseguir, cabeça-de-lista em 2022. Claro que foi travado com sucesso pelos mais velhos, forçado a abdicar da candidatura. Também não é novidade nenhuma que não morre de amor pelo ACJ, por isso encontrou no Alcides Sakala o seu candidato, aliás, nem escondeu isso mesmo. Quem se lembra da frase "tenho um candidato mas não o posso revelar?". Pois, não se referia ao ACJ. Sakala tombou porque um grupo de mais velhos, encabeçado por Samuel Chiwale e Ernesto Mulato (a lista é longa) já tinha feito as suas contas e traçado a estratégia. Incansável, Samas encontrou no acórdão do TC a "oportunidade" para realizar o seu sonho: impedir mais um brilhante "herdeiro de segunda" (do Huambo) a chegar ao trono.

Que o velho Samas também tem sérias dificuldades de lidar com mentes brilhantes e com a democracia, só os desatentos é que não sabem, mas é muito simples perceber isso.

 Atendemos ao seguinte. Eleito líder dos maninhos em 2003, registou uma derrota pesada nas eleições de 2008-, de 70 lugares conseguidos pelo velho Jonas, restaram 16. Para um democrata convicto e andou pelas europas, era motivo suficiente para dar lugar. Continuou. Mas não foi só continuar por continuar, como dizemos na banda. Combateu também as mentes brilhantes, na altura Abel Chivukuvuku e Lukamba Gato eram as mais notáveis. Mas para impedir Chivas de se candidatar no congresso do mesmo ano, suspendeu-lhe durante a reunião da CP que teve lugar no Huambo, em 2011, de um grupo de 45 membros, entre os quais o respeitável Gato. Com isso, Chivas decidiu bater com a porta: quem acompanhou os últimos acontecimentos, sabe que não me restava outra alternativa. Foi no hotel Alvalade, em Luanda. Chivas contava já no seu curriculum um bom histórico de humilhações desde o congresso de 2007, pelas ala samakuvista, e este um histórico recheado de pontapés à democracia, particularmente ao Mwangai.

 Samakuva concorria ainda em 2012, tendo dobrado o número de deputados. Foi para as eleições 2017, chegou aos 51 deputados. Hoje, com a curva apertada a que se meteu, só lhe resta uma saída: continuar a remar contra a fúria dos ACJs, claro que já com a barriga, porque, como diz o chinês, "angolano cabeça água", porque tendo em conta a idade, tem juízo suficiente para perceber que já não recupera a autoridade moral.

 O número de membros do seu partido, entre os quais os mais radicais, que o criticam duramente em público, com insultos à mistura, é significativo. As redes sociais estão cheias deles. Estamos a falar de membros com cartão assinado e cargo em todos os "escalões". É claro que os democratas convictos estão profundamente envergonhados. E os democratas dos maninhos estão mais ainda e com orgulho ferido. É que cantar aos quatro ventos que são os PAPÁS da democracia em Angola mas depois se deparam com figuras como o velho Samas, é das piores coisas que podem acontecer a qualquer que se preze. Que grande escola de democracia frequentada pelo velho Samas.

Opinião de Felix Abias, jornalista

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