O clima é de receio e tensão entre os funcionários do terminal multiusos do Porto de Luanda, agora sob gestão da DP Word, perante a iminência de despedimentos em massa nos próximos dias.
Em Fevereiro, 475 funcionários foram transferidos para o Porto Seco (Mulemba), com a garantia de não serem despedidos, ao abrigo da redução de número de funcionários imposta ao Porto de Luanda pela empresa saudita que identificou um elevado excedente de trabalhadores. O que contraria o que foi afirmado ao longo do processo e no dia em que assinou o contrato de concessão com o Ministério dos Transportes.
Sob gestão do Porto de Luanda, sem qualquer vínculo contratual, os funcionários explicam “não ver bem o processo” e desconfiam de um eventual despedimento em massa.
A mesma insegurança sentem os actuais 725 funcionários que se encontram no terminal multiusos. Informações dão conta de que, a partir do fim de Maio, ou princípio de Junho, 200 funcionários poderão ir para o desemprego. “Depois de ter ganho o concurso público de exploração do terminal multiusos do Porto de Luanda, a empresa tirou quase 500 trabalhadores da gestão antiga e entregou ao Porto de Luanda para os gerir. Agora fala-se em mais de 200 trabalhadores que vão ser mandados para casa. Esta empresa será que veio para gerar empregos ou veio mais para aumentar o já elevado número de desemprego?”, questiona, em tom de lamentação, um funcionário cuja identidade é salvaguardada.
Um outro funcionário refere não acreditar na promessa feita pelo Porto, de salvaguardar os postos de trabalho, “uma vez que também está a desfazer-se de trabalhadores.” Por isso, não vislumbra qualquer futuro diante do "rebentar da corda no lado mais fraco" e já pensa na realização de manifestação.
Por sua vez, o sindicato de trabalhadores do terminal multiusos considera não existir qualquer indício de despedimentos. O clima de receio é motivado pela ‘amarga’ experiência na transição de gestão dos anos anteriores e “falta de compreensão” da maioria dos funcionários. “Muitos pensam que vão sair porque não falam inglês, visto que a empresa é estrangeira.” Uma posição contrariada pelos funcionários que alegam que o sindicato está a “agir em cumplicidade com a direcção da DP World”.
PORTO DE LUANDA E DP WORLD À MESA
Ao VALOR, uma fonte do Porto de Luanda confirma a pretensão da DP World em reduzir o número de funcionários. E afasta a possibilidade de passarem à empresa pública porque se encontram em situação de pré-reforma.
No entanto, garante que nenhum dos trabalhadores ficará “abandonado”, embora alguns sejam prestadores de serviço. Está à mesa, em negociações, com a empresa sediada no Dubai, no sentido de enquadrar os excedentes no “seu escopo de negócios”.
A empresa de logística multinacional dos Emirados Árabes Unidos começou a operar a 1 de Março, após ter ganho o concurso público internacional aberto a 16 de Dezembro de 2019, que sofreu várias alterações durante o processo, e que mereceu forte contestação de uma das empresas concorrentes.
Na altura da assinatura do contrato com o Ministério dos Transportes, em Janeiro, a DP World garantia "manter todos os postos de trabalho" e assegurava ter planos para a formação profissional dos seus trabalhadores. Aliás, durante o concurso público, o projecto da DP World recebeu uma nota elevada no item "recursos humanos", em que também está incluído o valor previsto para a formação profissional: 2,3 milhões de dólares.
Na análise à proposta da empresa do Dubai, no concurso público, o júri sublinha que "a DP World garante a incorporação da totalidade dos recursos humanos afectos à concessão, apresentando um plano de desenvolvimento específico e detalhado de formação e capacitação de quadros a vários níveis" e acrescenta que "considera o plano de formação muito adequado".