Rui Galhardo, o filho branco de Savimbi

Denunciou Adalberto Costa a Savimbi, a partir deste momento a amizade azedou. Conheça a história do militante da UNITA que processou actual presidente do partido.

Em Novembro de 1989, Rui Manuel da Silva Galhardo, um angolano que em 1975, deixou o país em 1975, visitou a Jamba, e Jonas Savimbi, o presidente da UNITA, o recebeu num dos seus sofisticados gabinete subterrâneos com cerca de 30 metro, capaz de resistir a altos bombardeamentos. Era o bunker batizado por “Águias da Concordia”, localizado no Posto de Comando do Estado Maior. Presentes estava o general Tony da Costa Fernandes.

Galhardo teve uma relação especial com Jonas Savimbi, que o trava por filho. Nunca teve funções politicas nem militares na UNITA, mas isso não impediu que numa outra ocasião, Jonas Savimbi, o convidasse para uma reunião com os quadros, onde o líder guerrilheiro quis discutir sobre as intrigas e traições no partido. Savimbi virou-se para si e disse “estão a ver aqui o Rui? É branco e sei que não vai me trair”.

Nascido no Huambo, Galhardo aderiu a UNITA em 1975, no mesmo ano em que perdeu um avo e um primo nos primeiros combates entre os movimentos de libertação. Pouco depois seguiu para Portugal onde fixou residência. Estava baseado em Aveiro, local onde se iniciaram as negociações para os acordos de Bicesse para paz em Angola, em 1991. Galhardo era amigo do então Presidente da Câmara deste município, Gilberto Madail, e por sua vez, apresentou este político português ao então representante da UNITA em Lisboa, Adolosi Mango Paulo Alicerces. Terá sido o homem forte de Aveiro, que depois do contacto com Mango, moveu influencia junto do então PM Cavaco Silva e Durão Barroso para fazerem as pontes com o governo de Angola para negociações de paz com a UNITA, em território português. Savimbi passou apreciar o papel de Galhardo pela ponte feita. Em 1990, o líder da UNITA visitou Lisboa e os serviços de inteligência portugueses não terão entendido porque Savimbi colocou Aveiro no seu roteiro. Quando indagado, o velho guerrilheiro respondeu que tinha lá muitos amigos.

Depois da assinatura dos acordos de paz, Rui Galhardo viajou a Luanda para campanha eleitoral da UNITA, integrando uma comissão liderada por Jeremias Chitunda, que elaborou o programa econômico do “Galo Negro”. Naquele período, mudou-se para Benguela, a pedido do então mandatário da campanha de Savimbi, José Pedro Katchiungo, que o convidou para gerir o hotel Grão Tosco, comprado pela UNITA. Regressou a Portugal, e a partir de 1993, foi colocado na representação em Portugal, por ordens de Savimbi, tornando-se nas “orelhas de ouro” do velho. Para além de Savimbi, o trabalho especifico que desempenhava na capital Lusa, era apenas de um oficial de gabinete, general Kalias Pedro. Galhardo passou a ter acesso a sala de telecomunicação da representação usada para se comunicar com o gabinete de Savimbi. Em 1996, fez uma informação a Savimbi, que levou com que este exonerasse, o então representante em Portugal, Adalberto Costa Júnior transferido - o para Itália. A relação entre os dois nunca mais foi a mesma.

No reacender da guerra, viajou ao Bailando, o então bastião da UNITA, para ter contacto diretor com Jonas Savimbi, a fim de solicitar apoio para relançar-se nos negócios. Enquanto aguardava, meses, pela audiência acabou por conhecer melhor os bastidores da guerrilha. Viveu períodos de estado de debilitado. Presenciou comandantes militares a caírem em desgraça. Participou em reuniões em que Savimbi apelava por resistência aos seus colegas. Também já foi vitima das intrigas internas, levando com que Savimbi ficasse sem lhe passar a palavra por duas ocasiões. Ficou retido numa cubata, por a viatura onde se encontrava ter utilizado a rota da coluna de Jonas Savimbi, nos arredores do Mungo, e liberado pelo brigadeiro Michel, horas depois. No dia 24 de Setembro de 1998, Savimbi chamou-lhe, no Andulo dizendo-lhe que não iria aguentar a caminha pelas matas e que preparou condições para que o regressasse o exterior. No dia seguinte, Rui Galhardo foi levado para o Borkina Faso, numa aeronave Lear Jet de seis lugares que levava igualmente dois dirigentes que o acompanharam, Blanche Vilongo Gomes e Vadinho Civemba. Ficou notado como a pessoa que foi transportado pelo “último avião” que passou pelo Andulo, depois de a UNITA ter perdido este município.

A nível da UNITA, para além de Jonas Savimbi, a figura que mais admirava era José Pedro Katchiungo, de quem considerava um verdadeiro irmão.

No período de paz, passou a regressar a Angola com mais frequência. Andou pela Guine Bissau, servindo a indústria de restauração, mas sem se envolver na política. Ai conheceu pessoalmente o líder do PAIGC, e o actual Presidente Umaro Sissoco. Galhardo padecia de um câncer e nas ultimas semanas, havia comunicado ao pessoal de sua confiança de que precisava operar a vesícula biliar em Portugal.

Descanse em paz Rui, vai para o público pequeno resumo sobre ti, a sua UNITA, e a foto que pediste que partilhasse um dia.

Texto de José Gama