“ANGO-PESSIMISTAS”, “ANGO-OPTIMISTAS” OU “ANGO-REALISTAS”?
Conheci estes adjectivos através de uma leitura que pude observar ao livro do escritor João da Cruz Kundongende, extraídas de uma Obra de Dom Manuel Imbamba publicada em 2010, e por isto arrisco-me a dizer que foi a primeira pessoa a engendrar literalmente estas terminologias

Enquanto lia e reflectia sobre estas novas formas de pensar e ver Angola, percebi que elas estão bem inseridas no contexto do país real, ou seja, não podemos negar ou estar indiferentes à elas.

As palavras Ango-pessimistas e Ango-optimistas têm sido usadas no sentido pejorativo classificando angolanos com uma visão bastante reduzida ou até mesmo alienada sobre a realidade angolana.

Mas será mesmo que todo angolano que olha para a nossa realidade com um certo optimismo ou pessimismo deve ser visto como “persona non grata””? Não estaremos atentando contra o princípio da tolerância e das liberdades de expressão e pensamento de outrem?

Ouvir alguém dizer que “o país está bom”, “que o país tem rumo” talvez não é fácil para quem vive em bairros suburbanos caracterizados por um saneamento deplorável, falta de água e luz, insegurança pública, acesso aos bens de primeira necessidade e etc., mas talvez existam angolanos (no país real) que se revêm na visão optimista de que o país está bom.

A expressão “o país está bom” pode ser vista como demasiado optimista mas também pode descrever a realidade de muitos angolanos que mesmo com muitas dificuldades acreditam estar próximo de muitas realizações pessoais num país onde se diz que só progride “quem tem padrinho na cozinha”.

Eu por exemplo não ousaria dizer com verticalidade e prazer“que o país está bom” mas não teria dificuldade de respeitar quem defendesse tal convicção, aliás se um terço de pessoas que convive comigo olhar com certo optimismo para o país fruto de realidades comprovadas isso já seria uma grande motivação para acreditar num amanhã melhor.

À despeito de angolanos que evocam muitos optimismos e pessimismos orientados por motivações partidárias que se configuram em demagogias gratuitas, é importante pensar que existam no país pessoas que por várias razões prosperam num país onde a pobreza assola milhares de famílias.

Por outro lado, ouvir um angolano dizer que “o país não tem rumo”, que “o país caminha na rota do abismo”, “que está vendido ou hipotecado”talvez não seja agradável ou confortável mas pode ser um exercício sábio e de elevada tolerância.

Há expressões que pelo menos uma vez na vida temos de ouvir mesmo sendo dolorosas e bastante ásperas.

Não precisamos estar indiferentes ou até mesmo revoltados com angolanos que advinhem um futuro abismal para o país que é de todos nós, só precisamos reservar um pouco de atenção aos seus argumentos ou à realidade que precede ou sustenta tal afirmação.

Rotular, em primeira instância, os ango-optimistas de bajuladores e os ango-pessimistas de apátridas é um acto intolerante, deselegante e de pouco equilíbrio.

Quer queiramos quer não, a Angola de hoje, o país real deve congregar todas as visões, todas as realidades, todas tendências de opinião, e se assim não for podemos estar muito próximos de uma guerra crudelíssima de intolerância.

Tanto os ango-pessimistas como os ango-optimistas devem à priori ser vistos tão somente como ango-realistas até prova em contrário, ou seja, se houver interesses inconfessos o tempo encarregar-se-á de desnuda-los.

Não valem actos de intolerância contra entidades governamentais ou parlamentares porque quanto mais os rotulamos mais vitimamo-los elevando a sua promoção partidária.

Não valem actos de intolerância contra pessoas que são bastante sensíveis e denunciam dia-a-dia injustiças flagrantes, corrupção, abuso de poder, má governação, etc… São realidades nossas vistas por angolanos que exercem a cidadania no limite das suas liberdades.

Ango-optimistas, ango-pessimistas e ango-realistas desde que sejam acima de tudo cidadãos patriotas e falem da realidade angolana com responsabilidade social.

Bem haja aos Ango-pessimistas, ango-optimistas e acima detudo aos ango-realistas!

TENHO DITO!

Opinião de Danilson Lata

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